O azar da noite levou-me a essa pergunta que não sei responder:
Quantas noites cabem numa noite?
A folha segue em branco, com a luz do telemóvel desenho luas em meu caderno de viagens nocturnas, noite em que a insónia me visita ou me arrasta por suas desconhecidas e improvisadas ruas, quase oníricas, a lua, que sempre dorme ao pé da janela em primavera, avisa-me de que daqui não posso ver longe, eu sei isso, mas sempre a escuto, ela aproveita para me contar como ela adora se banhar no estanque que ainda não fiz e ela sempre me recorda... Ora eu já sei que não posso ver longe, mas sei também que meus dedos podem quase tocar esse ponto em que se cruzam todos os caminhos, infinitos, e regresso à infância e à mestra, regresso ao saber de que há outras linhas, as paralelas, que jamais se cortam...
Mas neste ponto que agora quase contemplo, no que me interessa ignorar as paralelas, cabe o futuro inteiro, todo junto, como se fosse um novelo a encher a bola de cristal da bruxa, que anda a adivinhar futuros, tecendo aquelas lãs de cores do ventre da sua bola.... Essa bola é tão pequena! caberia na minha mão, mesmo que dentro albergue o tempo tudo, tempo circular, como a caprichosa esfera, onde tão perto fica o próximo minuto como a última hora do que resta de uma vida... Poderia tantas cousas... se conseguisse trespassar a invisível linha dessa outra dimensão onde ela repousa, essa linha que me separa de seguir meu desejo de apanhá-la e sair correndo noite a fora, noite após noite... aí poderia ter tempo para responder todas as perguntas:
A primeira de todas: Como dormir? Como enganar a alma que tudo parece saber? O corpo vê que é noite, que há no céu estrelas e o galo ainda não cantou, o corpo tem ouvidos, mas a alma, insensata criatura, acha que é dia, ela pensa que é dia, e espanta o sono... Ontem também já me fez outra, parecida, às cinco da tarde convenceu-me de que era meio-dia... Agora que o relógio diz que são as quatro, eu faço que ignoro e não pergunto mais...
Concha Rousia
Compostela, 10 de Maio de 2011
Concha, minha querida amiga, nós e a noite: noite de celtas, indios e seus rituais, boêmios e suas vadiagens: nós na busca da quietude um sonho.
ResponderExcluirAbraços com carinho: tua escrita é um canto melodioso de um pássaro livre numa bela mata.
Abraços.Jorge
Pois é, querido Jorge, noite de fogueiras e danças que misturam nossas sombras com as dos carvalhos numa comunhão com a ancestralidade e a adivinhação dos futuros... como eu sigo a fazer mas sem fogueira, sem tribo e já quase também sem carvalhos. Abraços com carinho desde a mata da que canto, Concha
ResponderExcluirEsta noite para mim também foi de insônia Concha. Há desejos meus tão antigos que só agora parecem encaminhar-se, desejos de criança ainda, esses que temos a certeza que o são mesmo "nossos" ... não sei se é coisa de bruxa (eu nasci no dia das bruxas, segundo festa norte americana - 31/10. Meus presentes eram bruxinhas de papel, de tecido, de pedra...rsrs. Meu pequeno espírito de bruxinha criança ainda vive...o povo celta sempre me intrigou, e pode ser que por isso seu espírito escrito me intriga... vá lá saber... Bjs
ResponderExcluirHosamis, querida amiga, que seja bruxa não me surpreende nada, já tinha notado nosso entendimento de verdadeira irmandade feiticeira, é difícil de explicar, mas sei que tu me entendes rss, eu também nasci em outubro mas eu nasci o 4 dia de são Francisco, quem sabe ele se entendia bem com bruxas, ele se entendia bem com todo o mundo, rs, vamos descobrir muitas cousas juntas, uma abraço imenso para ti bruxinha linda, Concha
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