A Rousia é essa montanha que herdei sozinha, e que está prenhada de mar, e por ele eu um dia viajarei para ir a ilha dos nossos, o povo que desapareceu da aldeia da Rousia. Ficam casas desfeitas, com paredes a amparar carvalhos que crescem na ausência do povo ido... Concha Rousia
Seguidores
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Há vezes que a saudade...
Há vezes que a saudade
se coloca nos olhos
e não deixa ver nada
Há outras vezes que ela
arrasta-te até os pés...
ignorando os teus desejos
Há outras vezes em que
te parte pelo meio
impedindo que cabeça e coração
falem e se entendam
E ainda há outras vezes
em que a saudade
te ignora
te mira
te sangra
te despreza
e não te fala
te deixa num vazio
sem palavras
que ajudem a reconhecer
o que a gente sente
Há vezes que a saudade...
Concha Rousia
Vestidos
Amigos amigas...
que o dia vos vista
de pétalas a alma...
que o dia vos vista
de pétalas a alma...
É fácil saber como vestir o corpo
A primavera veste-se de ternura
de pétala de rosa ou margarida
delicado vestido que fácil se rasga
isso faz a ternura tão vulnerável...
O inverno veste coroça de rancor
feita de juncas duras e secadas
nunca se rasga e é impermeável
difícil de penetrar sob essa capa
Com é fácil saber vestir o corpo
Mas para a alma não é tão doado
Uma dessas capas nos coneta
a outra nos esconde e nos isola
Nem sempre pode ser inverno
mas também nem sempre primavera...
Caso de dúvida
melhor não vestir nada
ficar nua
ficar em casa
não sair...
No mar das minhas dúvidas sai ao quintal
lugar de tão grande intimidade
Vesti meus olhos de verde
meus ouvidos de cantos de passarinhos
fiquei a regar a relva como se nunca mais
fosse chover no universo
eu convertida em nuvem
em rio
em lago para a carriça
que me visita e toma seu banho
sem eu saber como
quanto entrei em casa
já vinha vestida...
agora sim, posso cobrir meu corpo
com qualquer trapo e sair para meu dia...
Concha Rousia
Quntal d'Amaia 28 do 5 de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Re-voltas
Me perdi em minha própria casa
minha pele, meu templo privado
descobri meu recanto preferido
meu tesouro escondido
que ao acha-lo me desconheci
como um não-eu dentro de mim...
Quis tocá-lo, tocar-me, reconhecer-me
e rompeu-se a miragem
desfeita em ondas cai por meu abismo
já em criança cai assim noutro poço
jamais reconhecerei meu erro
'o poço inclinou-se' continuo a dizer sempre
Quantas horas pode ter um dia tão longo?
tenho tantas saudades da noite que me abrace
e do interior do bosque que me oculte
onde meu coração cria suas raízes
na terra entre os carvalhos
que se movem ao eu andar
alongando as sombras e a vida
Hoje vou pedir para ser loba-nai
e amar os filhos que não tive
esses que mantenho em sonhos
sem abrir, onde hoje me escondo
Mas o dia se prolonga e eu
continuo encerrada em meu peito
não sei voar, sou crisálida cega
que morreu querendo tocar o sol
queimei o dia nos meus olhos
lágrimas generosas apagam o incêndio
num silêncio total e ensurdecedor
minha língua de borboleta
hoje me incomunica com o mundo
e com o resto de mim, onde te levo
Concha Rousia
Música para a leitura:
http://www.youtube.com/watch?v=rzpW7P83sb4&feature=related
Imagem que encontrei com minha amiga Loba Imperial ♥
Assinar:
Postagens (Atom)