(Imagem google)
A vida é lume
Os seres humanos
somos incêndios...
Arde a vida em nós
Nos consumimos
Queimando o tempo...
Concha Rousia
A Rousia é essa montanha que herdei sozinha, e que está prenhada de mar, e por ele eu um dia viajarei para ir a ilha dos nossos, o povo que desapareceu da aldeia da Rousia. Ficam casas desfeitas, com paredes a amparar carvalhos que crescem na ausência do povo ido... Concha Rousia
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segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Brasil
(Obra da autoria do artista brasileiro Alexandro de Amorim)
Brasil...
Te sinto tão meu
que a minha própria pátria
deixa de doer-me
Concha Rousia
Brasil...
Te sinto tão meu
que a minha própria pátria
deixa de doer-me
Concha Rousia
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Criação...
(Picasso, as meninas)
I
Escrever é criar-se um por dentro,
é descobrir os mapas do destino...
II
Escrever é despir-se
é dar-se aos olhos
alheios
no constante partir
do nascimento à
morte
Concha Rousia
I
Escrever é criar-se um por dentro,
é descobrir os mapas do destino...
II
Escrever é despir-se
é dar-se aos olhos
alheios
no constante partir
do nascimento à
morte
Concha Rousia
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Meu irmão brasileiro...
Língua da minha língua
braços dos meus abraços
que vão e vem do mesmo mar
que nós une, que nos continua
gota a gota uns dentro dos outros
como o bruar das suas ondas
ondas dentro das ondas
até o confim dos tempos
Eco do meu falar a língua mãe
no seu berço hoje amordaçada
Meu irmão brasileiro...
Levo na boca um cantar
que há tempos fica calado
ao peito acode apenas pranto
Levo na fronte uma estrela
cuja luz se quer ir apagando
mesmo ela não querendo...
Meu irmão brasileiro...
Deixa-me que te conte...
se tu me miras eu me vejo
se tu me falas eu me ouço
e mesmo que o mundo me
quiser negar a voz, eu falarei
se tu me ouves eu falarei...
e talvez assim se me cure
esta incurável saudade
Meu irmão brasileiro...
Concha Rousia, Galiza
Língua da minha língua
braços dos meus abraços
que vão e vem do mesmo mar
que nós une, que nos continua
gota a gota uns dentro dos outros
como o bruar das suas ondas
ondas dentro das ondas
até o confim dos tempos
Eco do meu falar a língua mãe
no seu berço hoje amordaçada
Meu irmão brasileiro...
Levo na boca um cantar
que há tempos fica calado
ao peito acode apenas pranto
Levo na fronte uma estrela
cuja luz se quer ir apagando
mesmo ela não querendo...
Meu irmão brasileiro...
Deixa-me que te conte...
se tu me miras eu me vejo
se tu me falas eu me ouço
e mesmo que o mundo me
quiser negar a voz, eu falarei
se tu me ouves eu falarei...
e talvez assim se me cure
esta incurável saudade
Meu irmão brasileiro...
Concha Rousia, Galiza
MINHA POETA GALEGA
Pois que te deixem falar
a língua matter, qual palmae
ou carvalho a fertilizar os tempos
em seu entorno.
Os teus falares têm ainda a dicção
do latino verbo fundador do pensamento
e de nossa forma de amar ao outro
e a natureza.
Que te deixem azular este céu
com as tuas palavras castiças
que me levam neste momento
aos bosques profundos
da profunda Galiza.
Palavras, pois, que nos unem
sobre este mar de tonalidade
verde profundo.
Deixem-te às palavras
que perduram, ao limbo
das exigências vãs da política
do vernáculo e da vaidade
para que tu as resgate
e que voltem ao alumbramento
como dos seres sagrados de memória.
Com os teus pares, deite
ao ar tua lira quinhentista.
Que te deixem ao direito de existir
irmã galega, em tua língua, tua história
tua identidade, pátria primal
que também é a do meu desejo
o desejo de essência que me avia.
Se te vês cansada, lute ainda mais
Se te desanimas, não recues
do que te cabe.
Os destinos validos
são os que se projetam sobre o tempo
e acendem, sobre as noites, os dias.
Aquelas que promoves
são as justas refregas
em que não cabem áis
e que tem o matiz que sabe
de tua santa indignação.
Tua idéia inarredável
ilumina homens e mulheres
de idéias, pelo mundo à fora
como o pequeno
Farol de Alexandria
rasgando o negror da noite.
Ah, interstício da vida que vai
em que ao sopro vaporoso
de uma Canção de Amigo
tu me embalas no soar
de teu banjo medieval.
Pois que não te possam
calar jamais.
Ricardo Sant'Anna Reiss, Brasil.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
CARTA DA GALIZA AO BRASIL
Meu bem-querido irmão:
Antes de mais permite-me que me apresente, há tantas cousas erradas que te tem contado de mim, e eu quero, necessito mesmo, que tu me conheças como eu sou. O meu nome é Galiza, ocupo o Noroeste da península Ibérica, sou geograficamente, culturalmente e linguisticamente irmã de Portugal, que fica ao meu Sul, do outro lado do rio Minho; uma pequeninha parte de mim permaneceu sempre independente de qualquer estado até meados do século XIX, mas hoje sou um território totalmente dominado polo Estado Espanhol... Eu sou uma velha pátria que esqueceu já a sua idade; mas o que nunca vou esquecer, mesmo que ao mundo lhe custe perceber, é que em mim nasceu e se criou a nossa língua; esta que tu e eu falamos e que por vicissitudes da história se conhece internacionalmente apenas como ‘português’ mas que nós aqui também chamamos ‘galego’. Mas deixa-me continuar a te contar...
Permite-me que te fale um bocadinho da minha longa história. Eu sou a velha terra chamada ‘Calaica’ Terra onde, como já te disse, nasceu e se criou esta nossa formosa língua; um dia eu fui grande... naqueles tempos foram os meus filhos os que emigrados povoaram a Bretanha, o Centro dos Alpes, e as ilhas Britânicas, consolidando durante milênios a laborada cultura Atlântica. Vai ser muito difícil para mim em poucas palavras resumir-te tantos azares, tantas batalhas, tantas façanhas e também tanta dor e tanto sangue derramado.
Muitos foram os povos que quiseram governar-me, pola cobiça do Ouro, pola riqueza mineira que guardava a minha entranha; chegaram legados de Roma ávidos de conquista e saque, para abrir seu domínio, atravessando do Douro as margens, mas antes tiveram que ceifar 50.000 almas indomáveis, que a peito nu combatiam, porque cobrir o peito era para eles ação de cobardes. Do Latim trazido com as suas outras falas, misturou-se através dos séculos nossa céltica linguagem, para que abrolhasse na Idade Media a língua que agora, meu irmão em espírito, embeleces arrolando-a, com o amor e a exuberância das florestas incontornáveis. Essa língua mesma nascida para amar e ser cantada criou uma das maiores culturas da Europa Medieval, polo caminho de Sant Iago difundida e admirada. Mas tarde, nas lutas dos reinos Ibéricos polo controlo da Hispânia, fui vencida e humilhada polos reis Católicos de Castela e seus ferozes aliados, para pronto, sem dar-me fôlego, à escuridão ser condenada. Atrás ficara o 1º Reino da Europa a liberar-se do Império romano, no século V, polo embate dos aguerridos suevos. Atrás ficaram as lutas entre Afonso Henriques, 1 º rei português, meu filho do Porto Calem, e seu primo Afonso VII, imperador de toda a Gallaecia.
Minhas glórias foram vendidas pola arrogância e a astúcia dos homens, pola traição dos insensatos; meu nome da historia foi apagado. Mas o espírito só adormeceu, e centos de anos mais tarde, as vozes de Rosalia, Pondal, Curros Enriquez e muitos outros, alguns mártires em Carral, ergueram de novo esta chama que agora te entrego irmão na confiança, sabendo que farás bom uso dela, e elevarás no continente americano, como na África e Oceania, onde outros irmãos nos aclamam, a voz lírica deste novo mundo, lusofonia chamado, para que nunca mais a vida nascida das minhas entranhas seja por outros desprezada.
Eis a minha história, irmão Brasil, ainda hoje continuam meus filhos, contra a ignorância lutando, pola dignidade deste recanto que foi berço da cultura que hoje tu com orgulho ao mundo amostras sem arrogância. Continuarão ainda cá tempos difíceis que pronto iremos superando com ajuda dos nossos irmãos que conhecem a nossa palavra, por que a palavra hoje é carne e mora vestida de raças, para os povos unir na nobreza da que foi criada.
Como vês, querido irmão, a minha luta tem sido longa e sem tréguas, tenho de admitir que vou velha e por vezes me sinto cansada... Acho alívio em saber que tu herdaste a minha fala e que em ti nunca se apagará a minha chama; não é que eu recuse a luta, mas tenho que ser realista... o destino da nossa língua, língua em que eternamente viajará a minha alma, aqui na pátria mãe, ainda é incerto.
Há um ano um grupo de intelectuais e artistas, professores, escritores, e defensores da nossa cultura, criaram a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP). A ajuda da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras foi notável e imprescindível. A AGLP, a que sinto como a minha filha mais nova, tentará abrir os caminhos que rompam o cerco que nos sítia e nos abafa; do seu êxito depende em grande medida o meu futuro, é por isso que te peço a acolhas com agarimo e a ajudes no que puderes em nome da nossa eterna irmandade.
A nossa língua atravessa uma das suas piores etapas de todos os tempos na terra berço, a terra mãe que com tanto amor a viu nascer, e a seus filhos e filhas de todo o mundo envia hoje a sua voz... Voz que vai na procura de ajuda que tanto necessito, ajuda que restaure a minha dignidade, peço não continuar a ser ignorada. Por isso te falo, querido irmão, por isso te falo...
Recebe de mim a palavra que mais estimes, meu amado irmão Brasil
Assinado: A Galiza
(da Autoria do Clube dos Poetas Vivos: Artur A. Novelhe, Belém de Andrade, José Manuel Barbosa, e Concha Rousia)
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Vozes que para mim são poesia...
É impressionaste...!!!!!!!!! esta história que aqui se conta, também se conta na minha aldeia... apenas mudam detalhes... E já agora, na minha comarca fala-se com este mesmo sotaque que aqui se ouve... (hoje com dificuldade polo mal estado da nossa fonética pola sobre-dose de castelhano que levamos no corpo)
http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/som1.html
É impressionaste...!!!!!!!!! esta história que aqui se conta, também se conta na minha aldeia... apenas mudam detalhes... E já agora, na minha comarca fala-se com este mesmo sotaque que aqui se ouve... (hoje com dificuldade polo mal estado da nossa fonética pola sobre-dose de castelhano que levamos no corpo)
http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/som1.html
:)
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
(Nós... em Compostela, Galiza)
Aperta.
Eu acredito em vós,
nas vossas casas iguais às de ninguém,
nas palavras de lume e vida que habitais,
nos espaços comuns na madrugada,
na conversa, nos sonhos, nos projetos
entorno à mesa de recendo a camaradagem,
na caminhada em franca gargalhada,
nos passeios do outono que se doura
em Compostela ou na beira mar da Crunha,
nas dunas e areias cinzentas do norte bruante,
nos outeiros verdes e nas carvalheiras,
nas rias do sul ou nas penedias bravas
talhadas no sólido granito das lendas.
No longe dos caminhos abertos ao mundo
eu acredito em vós, em nós, irmãos.
Aperta.
Eu acredito em vós,
nas vossas casas iguais às de ninguém,
nas palavras de lume e vida que habitais,
nos espaços comuns na madrugada,
na conversa, nos sonhos, nos projetos
entorno à mesa de recendo a camaradagem,
na caminhada em franca gargalhada,
nos passeios do outono que se doura
em Compostela ou na beira mar da Crunha,
nas dunas e areias cinzentas do norte bruante,
nos outeiros verdes e nas carvalheiras,
nas rias do sul ou nas penedias bravas
talhadas no sólido granito das lendas.
No longe dos caminhos abertos ao mundo
eu acredito em vós, em nós, irmãos.
Ernesto Vázquez Souza
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Se os carvalhos falassem
não ficaria eu tão só
e as minhas conversas deixariam de ser
monólogos que me queimam na gorja
Se os carvalhos falassem
minha seria a dor da sua decota
meu o medo ao incêndio
e minha a capa de prata do seu tronco
Se os carvalhos falassem
meu seria o mundo dos pássaros
meus os degoiros e fantasias
minhas as pernas trepadoras de criança
e suas as minhas caricias
Se os carvalhos falassem
seus os meus ouvidos
minhas as suas queixas
meus os seus ancestros e os druidas
e as fadas do monte que há herdar meu corpo
Se os carvalhos falassem
Escutaria eu não outra fala
meu o refugio entre urzeiras e carpaços
minhas a paz e a liberdade
meu o meu destino
minha a minha pátria.
Concha Rousia
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Imagem google
Pensamentos do meu animal político I
Não consigo viver sem criar
amo esta língua que me liberta...
...e que pobre me parece Espanha
como uma pátria unidimensional
que não pode conceber o mundo
tal como ele é
tal como ele quer ser concebido
vejo os espanhóis eternamente lutando
contra moinhos de vento
Acho que vai sendo hora
de ir indo...
Concha Rousia
Pensamentos do meu animal político I
Não consigo viver sem criar
amo esta língua que me liberta...
...e que pobre me parece Espanha
como uma pátria unidimensional
que não pode conceber o mundo
tal como ele é
tal como ele quer ser concebido
vejo os espanhóis eternamente lutando
contra moinhos de vento
Acho que vai sendo hora
de ir indo...
Concha Rousia
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Os meus amores nos olhos de cada amanhecer...
A beleza está aí pousada
Concha Rousia
Vilamarxant, Agosto de 2009
Retrato de uma manhã de verão...
A beleza está aí pousada
em cada folha, em cada ervinha
mesmo seca
em cada palavras falada
em cada polegada do ar poeirento
que nos assiste neste abafante Mediterrâneo
A beleza está no jeito
em que os teus olhos
retêm a imagem da montanha distante.
Concha Rousia
Vilamarxant, Agosto de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Amor amado...
Entra amor
esta sala tem as tuas medidas
ninguém mais poderia
nunca ocupá-la
Teu nome está escrito
nas invisíveis paredes
que retém o ardente fogo
que emana das letras
do nome que eu semento
e cultivo
em minha alma: O teu nome
Entra e sai livremente
como se jamais portas
fossem inventadas
Quero ser para ti um templo
sem limites
sem regras
que não sejam as tuas próprias
Entra
e se queres
profana-me
pois tu és aqui
o único Deus.
Concha Rousia
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