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domingo, 5 de agosto de 2012

 
Cartas sem destinatário

Ahhh como eu gostava daquele tempo em tu me escrevias postais com flores, mesmo quando não era o meu aniversário... Eu recebia aquelas cores como se fosse primavera no meu rosto, e as rosas fossem verdadeiras, de ca
rne e osso... Fechava os olhos imaginando seu cheiro, enquanto tu me seguravas, não sei porque, quando eu ainda estava aqui tu me seguravas... Sempre pensei que seria para evitares que eu esvaecesse como o aroma das rosas, meu espirito flutua tanto, que meu corpo fica demasiadas vezes sozinho... Tu sempre notaste isso...

Que sozinha me sinto quando palpo este corpo sem gente dentro... Já não sei onde estás, nem sei onde guardo os teus cartões, aqueles de flores inventadas num papel, e sempre havia uma mensaginha linda escrita a lápis, nem sei se era de amor, mas lembro que na altura eu sentia que era, então era... Mas o tempo rouba o sentido das cousas todas... As batalhas nos vão desgastando, ou quem sabe se completarmos-nos não seja com desgastes, até que não fique nada de nós por esmigalhar, como a farinha nas filhoas, e então podes ir-te para o além, a ideia de ser massa de filhoa (com seu sangue de porco, como tem que ser) não me agrada muito, mas...

Onde disse que tem que agradar alguma cousa, lestes algum contrato na saída do útero? Eu li tudo, foi depois que me fiz analfabeta, a cada dia mais analfabeta... tanto que nem sei mais o que é ser analfabeta, talvez aquele senhor dali, sério, de bigode, insista em dizer que eu não sou analfabeta, e quem sou eu para contradizer tão sábio bigode... então calo, flutuo, e vou-me embora pelas janelas do corpo, vou-me a minhas batalhas; hoje as guerras me levam é por caminhos invisíveis, sim, eu sou invisível, aonde vou não preciso corpo para me reconhecer num olhar...

Ahhhh como eu queria ser âncora no mar imenso das tuas dúvidas que cavalgam em gigantes ondas, ora te aproximam ora te afastam... Como é frágil a nau que construíste para nos salvar, e por isso não me queres dentro, eu sei, eu sei isso... e talvez também te preocupem os postais, esses que eu guardo nas dobras da memória, e tu já não me escreves... Agora entendo, nessa nave tua não se preserva bem o papel, tudo acaba inundado, então eu aceito este deserto de mensagem, e hoje, sem demora vou ir a praia, eu sei que em tua vida há muitas garrafas vazias, talvez nelas coloques algum sinal para mim, algo que eu de certeza entenderei...

E agora que a tristeza toda do mundo se pousou sobre mim, não como uma pomba. não, antes bem como uma bomba, BUMMMM destruindo a minha superfície, o meu sorriso, a minha postura corporal, as minhas ideias, sim também as minhas ideias.... agora penso o muito que me agradaria receber um postal teu, um com flores pintadas...

Concha Rousia
Quintal d'Amaia 12 do 7 do 12

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