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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pesqueiro em Ribeira, Galiza.

Barco pesqueiro aproximando-se do cais em Ribeira, porto pesqueiro número um do mundo em pesca de baixura... fica na ria de Arousa, na Galiza... A subastação de peixe tem lugar todas as tardes a partires das 18:00... um espectáculo ao que nunca deixam de assistir gentes e gaivotas... a brigar polas capturas...

O meu Multiverso e a resposta de Evandro

Multiverso, ou o meu Terceiro intento...


1978... eram anos feios, morrera Franco, o ditador, havia dous anos mas seu cadáver ainda fedia a podre, nem à terra lhe foi fácil de engolir... Nas escolas públicas para meninas tentavam ensinar-nos como ser dóceis esposas e boas espanholas, proibida a nossa língua pelos dous motivos, matrimonial e patriótico... mas devíamos parecer sofisticadas e por isso, talvez por isso, se nos ensinavam cousas como 'Hogar' era uma matéria da que só lembro as aulas de pintura, nem sei porque as lembro, lembro que eu entrava numa espécie de trance e pintava o que a mão queria,


...a primeira vez que a professora me berrou diz que 'escaralhara' uma paisagem linda, que eu pintara, colocando em primeiro plano, diante de tudo uma margarida gigante, subia lá por cima das montanhas até o céu, os gritos da professora deveram-se em parte a como fora pintada aquela margarida, pois ela era um esqueleto humano, sei que me dera trabalho desenhar tanto osso numa margarida gigante, pintara-a durante as férias de Natal... Nem sei que fim levou aquela pintora, era óleo sobre madeira... até penso que ma mandou reciclar para pintar um 'bodegão'...


...esse foi o meu segundo intento, todo o mundo tinha liberdade para escolher os materiais da sua 'Natureza morta' e eu escolhi um tijolo, uma pedra, uma garrafa de cerveja... uma tábua rota, e não sei que mais... o trauma deveu ser muito grande porque lembro que o pintei, mas não lembro nada mais... acho que por muitos anos pensei que não podia desenhar nada agradável para professoras, aí morria o meu segundo intento...


...e por isso este que veis aqui, é o terceiro, nem sei como comecei a fazer riscos nesta folha, mas sei que esta foi a primeira de todas as demais folhas que já desenhei... uma amiga oferecera-me uma caneta, e talvez essa foi a razão pola que não consegui parar de riscar e arriscar no papel... e por isso está aqui hoje este meu terceiro intento...


Concha Rousia






SOBRE UMA PEDAGOGIA COERENTE COM O MULTI(uni)VERSO

Por Evandro Vieira Ouriques

Para minha querida Concha, irmã ancestral.
...
De fato é uma monstruosidade o que se fez e o que se faz com e através da pedagogia, treinando as pessoas, ainda na fase criança, com o estado mental de que a vida seria cinza, cruel, traiçoeira, vingativa; inevitável e "natural"-mente violenta sob todas as formas.

Por isto a escuta em relação às pessoas na fase de criança é o coração de tudol.

Costumo, fazem muitos e muitos anos, perguntar, às pessoas e grupos com quem trabalho, se eles já ouviram ao londo da vida a pergunta "O que é que você vai ser quando crescer?".

E, em seguida, após todos sem exceção levantaram as mãos, pergunto quem dentre eles já ouviu a pergunta "O que é que você é?, para então ver, e pedir que todos se observem, ou ninguém levantar ou então um ou outro levantar a mão.

Ora, se a família, a escola, a mídia e a sociedade não praticam em relação às pessoas na fase de crianças a pergunta "O que é que você é?" como é que elas podem e poderão saber o que serão?

Se não se pergunta quem você, como valorizar a Galiza que vive dentro de cada um de nós? A nossa Galiza pessoal e social? A Galiza de cada cultura? De cada ser e de cada comunidade que é parido neste mundo?

O resultado tenebroso é o que conhecemos: a morte da multitude de línguas, da margarida, do girassol, do abraço de alegria gigantes; a redução do maravilhamento e da gratidão diante do milagre da Vida; a instauração dos insustentáveis campos de extermínio em cada Território Mental.

Trata-se da instauração de uma suposta "sofisticação", em nome da qual tudo que é da Terra, tudo que lembra a Terra, tudo que é como a Terra, tudo que pelo transe re-instaura o casamento sagrado das polaridades, é arrasado pela des-conexão primeva do que sempre esteve, está e estará em união.

Oculta-se o esqueleto humano que está na planta como oculta-se a planta que está no esqueleto humano, como oculta-se a holográfica complementariedade não-dualista do que se entende então como opostos, como se a Cultura fosse a outra absoluta da Natureza.

E, grife-se, como se os conceitos, as palavras, qualquer deles e delas, fossem capazes de expressar e dar conta da complexidade infinita da plenitude da pulsação, do vazio, do silêncio.

E porque? E qual o porquê desta pedagogia de instaurar tal estado mental que devasta a verdadeira liberdade do Território Mental, tornando as pessoas, desde a fase de crianças, obedientes ao ceticismo, à desconfiança, à desistência, ao à ganância, ao ressentimento, à vingança?

O fato é que as pessoas na fase de crianças têm nelas ainda intensa-mente viva a Natureza e, assim, viva nelas a ética da Natureza.

Discute-se tanto onde o que está e é a ética e chega-se ao absurdo destrutivo de que ela é relativa e que existiriam muitas delas...

Quando o necesseario para resolver tal enigma é olhar com olhos livres o as pessoas na fase de criança têm vivo nelas, porque é o que elas são, o princípio organizador da Natureza, em movimento: o Amor; a lógica da rede; da interdependência; da troca energética; do não-julgamento; da solidariedade; da sustentabilidade; da compaixão; da verdadeira inovação e criatividade; do fluxo; en-fim e em-começo, do devir.

Não o orientado pelo e para o caos, que o torna assim o não-vir, por eliminar do horizonte o horizonte e suas possibilidades infinitas. Mas o devir do encontro.

Aquele da insistência livre e alegre dos intentos, como de quem cai e levanta rindo a cada queda, dos poemas em vida retribuídos em alegria à Natureza, esta sim professora de uma pedagogia aberta e multicolorida, movida pela transformação, pelo absoluto respeito à diversidade, pela simplicidade, pela humildade, em gratidão ao multi(uni)verso.

É por isso que está aqui e agora, hoje, mais este intento meu, com o qual tento, com compaixão, apagar da lousa interna mais um pouco do que através dela escreveram em mim, e muitas vezes no passado com minha ajuda, sobre a inevitabilidade do ódio.

Essa é a razão pela qual a(r)risco o Amor nas relações, nas telas e nos papéis ao longo de todo o caminho, como mais um que caminha, procurando e deixando marcas de ajuda às irmãs e irmãos que nele estão e, um dia, estarão.

Com a amor, e.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Alalá das Marinhas...

Alalá das Marinhas...

Peça de música tradicional galega, interpretada por Milhadoiro, a música mais ancestral da Galiza, o que quase equivale a dizer da Europa... Deixa que penetre em tua alma... leva a minha junto...

...entra aqui no link...
http://recantodasletras.uol.com.br/audios/instrumentais/38637

O alalá das Marinhas

Alalá das Marinhas...

Peça de música tradicional galega, interpretado por Milhadoiro, a música mais ancestral da Galiza, o que quase equivale a dizer da Europa... Deixa que penetre em tua alma... leva a minha junto...

http://recantodasletras.uol.com.br/audios/instrumentais/38637

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Primavera com Sombreiro

 

Antes de ver-te

Antes de ver-te
                   Te vi
Te vi com os olhos claros da alma
Te vi sonhando
Te vi como realmente és
        como sempre foste
                          em todos os destinos...

Antes de ver-me a mim
já antes
          muito antes
                         te vi a ti...

Te vi em tudo que ansiava fosse meu
                    mas não meu para possui-lo
                    e sim meu para incorporá-lo e libertá-lo...

Antes de ver
                 eu já vi...
Concha Rousia
Publicado no Recanto das Letras em 16/02/2011
Código do texto: T2795114

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Biografias...

Recitando por primeira vez este texto no 'Negra Sombra' Vigo 12,2,2011

...quando eu morrer quero que escrevam todas as minhas biografias, ora bem, quero que contem todas as minhas vidas como elas foram, as secretas e as outras... Ah, e por deus não esqueçam falar da parte na que fui puta e vivi fora de meu corpo para o poder ir vendendo a homens que sonhavam com se desfazer de uma alma que lhes ardia dentro... Eles necessitavam um corpo e a mim sobrava-me... mas nem eles conseguiam deixar em mim a sua alma nem eu consegui nunca me desfazer do corpo que segue comigo ainda hoje, não esqueçam contar isso...

Como não devem esquecer contar de minha etapa de freira, quando eu morava num silêncio de pedra que me fazia adoecer os joelhos, aí tinha o meu corpo todo para mim sozinha e o chão duro... Mas sobre tudo não se esqueçam de falar da mãe que fui, sempre duvidando de se o estaria a fazer bem, sempre, mesmo tendo a certeza de que não há forma de o fazer bem, nem jeito de saber o que é fazer bem, curei da meninha que ficara danada dentro de mim desde a infância, essa criancinha que todos temos e nos tapa os olhos impedindo-nos ver os filhos e filhas de carne e osso diante de nós.

Também quero que contem quando fui deus, e consegui que todos me obedecessem, mas não durei muito tempo porque aquilo dava-me muito trabalho, e quero que saibam que se em alguma cousa eu fui constante foi em aborrecer o trabalho repetitivo, deixei o meu emprego de deus, já tinha deixado o de puta e o de freira antes, ora que esquecer-me de seguir sendo deus custou-me... Tenho por aí muitas outras partes que não quero que esqueçam, por justiça não se me vão esquecer da poeta, essa, a coitada padeceu por todas as demais... Até pola desenhadora de mapas do inconsciente, que resgatara todas em alguma ocasião.

E a colecionadora dos suspiros do loureiro, está última noutro tempo teriam-na chamado de louca mas nos tempos que viveu já a gente se desentendera de ver outra gente... e ela via apenas o seu loureiro e contava os seus suspiros... Depois sempre saía voando com alguma melra que chegasse ao quintal... mas de entre todas elas se só podem escrever sobre uma... aí então escrevam sobre a labrega, a cultivadora da terra... essa foi a primeira em nascer e a última em morrer, a labrega enterrou as outras todas, incluída a que era deus... e sobretudo enterrou a puta, a labrega estava enraizada no corpo e nem quando era puta, ou freira, ela se foi embora... sempre gravando tudo, nem sei como permite às mãos hoje escreverem isto...

e já agora não se esqueçam da política, essa foi a mais patética, mas o pior é que ela também o sabia, candidata sem fé e com consciência... e as outras biografias todas que ainda faltam, por favor esqueçam-se delas, esqueçam a que cantou em mim, esqueçam essas e as outras todas... depois quando tudo esteja, palavra após palavra, deitado nas folhas, peço que as juntem e as queimem sem ler... Meu último desejo é que sejam cinza como eu...

Concha Rousia

Minha Terra


A cada vez que te percorro, que me deslizo por tua pele nordestina, agreste e atlântica, vou sementando em meus olhos os carvalhos, as veigas, as fragas e soutos, os vales e os penedos, as casas de pedra e os labregos, os labregos... e depois as rias e os marinheiros, e a barca de pedra...

A cada vez que me embebedo de teus céus, fertilizo-me de poesia e nevoeiros, retorno a minha morada com a alma fecundada de ti, Galiza...

...e agora, quando me acho apenas entre as paredes do meu corpo solitário a amanhecer comigo, eu saberei que não estou sozinha, e sentirei em mim o voo da pega que roubou um vidro com as cores do arco-íris para seu ninho, a melra que pintou as vímbias* alaranjadas como o seu bico, a lavandeira que leva em seu voar ondulado e no piscas de seu rabo os códigos dos nomes das nossas vacas, e eu em minha solidão povoada saberei quem sou um ser coletivo...


*  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *
Vímbia* s. f.
             (1) V. Vime.
             (2) Vime manso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Multiverso

                                      
                                                 ...ou o meu Terceiro intento

1978... eram anos feios, morrera Franco, o ditador, havia dous anos mas seu cadáver ainda fedia a podre, nem à terra lhe foi fácil de engolir... Nas escolas públicas para meninas tentavam ensinar-nos como ser dóceis esposas e boas espanholas, proibida a nossa língua pelos dous motivos, matrimoni...al e patriótico... mas devíamos parecer sofisticadas e por isso, talvez por isso, se nos ensinavam cousas como 'Hogar' era uma matéria da que só lembro as aulas de pintura, nem sei porque as lembro, lembro que eu entrava numa espécie de trance e pintava o que a mão queria,

...a primeira vez que a professora me berrou diz que 'escaralhara' uma paisagem linda, que eu pintara, colocando em primeiro plano, diante de tudo uma margarida gigante, subia lá por cima das montanhas até o céu, os gritos da professora deveram-se em parte a como fora pintada aquela margarida, pois ela era um esqueleto humano, sei que me dera trabalho desenhar tanto osso numa margarida gigante, pintara-a durante as férias de Natal... Nem sei que fim levou aquela pintora, era óleo sobre madeira... até penso que ma mandou reciclar para pintar um 'bodegão'...

...esse foi o meu segundo intento, todo o mundo tinha liberdade para escolher os materiais da sua 'Natureza morta' e eu escolhi um tijolo, uma pedra, uma garrafa de cerveja... uma tábua rota, e não sei que mais... o trauma deveu ser muito grande porque lembro que o pintei, mas não lembro nada mais... acho que por muitos anos pensei que não podia desenhar nada agradável para professoras, aí morria o meu segundo intento...

...e por isso este que veis aqui, é o terceiro, nem sei como comecei a fazer riscos nesta folha, mas sei que esta foi a primeira de todas as demais folhas que já desenhei... uma amiga oferecera-me uma caneta, e talvez essa foi a razão pola que não consegui parar de riscar e arriscar no papel... e por isso está aqui hoje este meu terceiro intento...

Concha Rousia