Seguidores

domingo, 5 de agosto de 2012



A Noite continua

É noite, e meus irmãos andam perdidos
meus irmãos e irmãs andam longe de casa
dessa casa nossa que não tem portas
nem tem saídas, nem sequer tem janelas
para que eu respire...

É noite e o inimigo fechou fora de nós a nossa Estrela
já não podemos cantar sem saber onde é acima
onde é abaixo e para onde iria a voz do nosso canto
não adianta cantarmos neste mar de pedra
que fixa nossa barca a um sem-rumo certo

Hoje poderia perguntar-me tantas cousas...
poderia perguntar-me se valeu a pena ter vivido
agora que sinto como se nunca tivesse nascido
acaso podemos dizer que a flor que nunca viu o sol
que não tem cor, que não tem cheiro... Nasceu?
não me importo com que os morcegos a sintam
eu falo do que sente a rosa
do que sente ela sem sair da noite sem saber
o que é o dia, o que é o voar das borboletas
eu falo de jardins condenados a morar nas mãos
de jardineiros cegos que detestam flores

Mas a rosa também é um conceito, eu sei
basta que alguém a conceber e ela exite

Hoje necessito acreditar cegamente nisso
sei que não posso, como tantas outras vezes
que também não pude e depois me ergui
porque eu tenho que continuar minha espera
tenho que manter o lume acesso noite fora
eu sei que meus irmãos ainda podem voltar
porque eles seguem fora, seguem perdidos

Manterei o lume aceso para seu regresso
juntarei mais e mais e mais lenha
e mesmo se eles nunca mais regressem
eu ficarei sempre a esperar por eles

É noite e meus irmãos andam perdidos...

Concha Rousia

Nenhum comentário:

Postar um comentário