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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dança comigo



De olhos fechados e sentidos abertos
                             para tocar o infinito


nossos corpos colados um no outro...
vestidos polo ar que nos abraça
não permitindo nós nos separar,
contornando o 'uno' que formamos
com o ocaso dum dia qualquer...


E tu cantas...
mornas notas acariciam minha pele
que se sonha flor de eterna primavera


Tu cantas...
e eu deixo-me perder em teu sotaque
inundada de luz na penumbra da sala...
a lua aguarda para nos vir cobrir
com seus fios de prata até a madrugada...


A janela aberta a falar da brisa
húmida e quente...
de um mar salgado e bravo...
que se move dentro e fora
sussurrando o sonho eterno
de um tempo para nós dous
um tempo que voa nas assas
secretas de borboletas azuis


Tu cantas...
e a primavera desabrocha
as pétalas do meu corpo
que pressente o verão em ti
prestes a chegar...




Dançamos quietos...
visitando, sem nos mover de lugar,
cada recanto de nós, do nosso interior
hoje abarcável infinito...


Dançamos...
com a música do mar
a voar em liberdade por cima
de todas as realidades impossíveis


E tu cantas...
E tu cantas...

Concha Rousia

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ILUZIONISTA






A luz entrou hoje com força
obrigando-me a ir à janela...
para ver como ela recorta
                                    os carvalhos
                                    as montanhas
                                    os vales e
                                    os pássaros


A luz hoje falava uma língua de lume
                                        a queimar o ar
                                        e acender fogueiras
                                        nos meus olhos


Vinha envolta em seu manto transparente
                                          pra me enganar
                                          pra me fazer ver...


A luz é a grande iluzionista
                                    no teatro da vida

Concha Rousia

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pensamentos quânticos I




Por que sou eu ateia ?????

'Sou ateia
          porque Deus
                          foi feito a imagem e semelhança
                                                                   do homem'



Concha Rousia

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Os Sentidos na Terra (Do desespero)


                (Obra do artista plástico Jesús Lorenzo)


Meus pais morreram
                e eu soube onde enterrá-los


Sabia de sempre
               onde descansam os pais deles
               os que eu nem cheguei a conhecer


Meus pais eram velhos
                       eram gente doutro tempo
                       que eu tive que despedir...


Aprendi a levar-lhes flores
            a visita-los
            a usar seus sapatos
            a aprender de novo os caminhos
logo de ficar desancorada
                                    à deriva
                                              com terra nos olhos...
               
                      ...quando morreram meus pais...


                    ...eu soube como seguir a respirar...


Que eu não sei é
                      enterrar o meu país e seguir viva...


Que eu não sei é
                      respirar com terra na boca...


Concha Rousia 



                (Obra do artista plástico Jesús Lorenzo)


terça-feira, 24 de novembro de 2009

AMANHECER


                                                                  (imagem google)


Ergueu-se o poema
Tocou meus beiços
e eu dei-lhe
    ...a minha voz...


Senti ir-se de mim
uma dor antiga e
a meus olhos chegou
a beleza do mundo
que não via...


Concha Rousia

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ACORDAR DOS SONHOS (Dos Dilemas do Ser)

 
                                                (imagem google)

Quero abraçar-me a ti
                           dentro dum sonho


Tu vindo a caminho
                           eu indo...


Abraçar-nos com a mirada
incorporando a nós tudo
                            que nos separa
                            e então nos une


Fechar os olhos e
                       abraçar-te
                       abraçar-me em ti


Pertencer ao Universo dos teus braços
Entregar-me ao calor
            com que proteges meus segredos


Sentir a minha alma passar para o teu corpo
Senti-la ir-se
                 para o teu lado da pele
e saber que virá de volta
                                  sendo tua
sendo uma
                 inseparável
                                  da tua...
                          
que entra em mim
               acordando sonhos passados
               e o saber de que nem tempo
                                        nem espaço
poderão já manter-nos apartados.


Concha Rousia

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Regresso de cabo não


(inspirado em 'Regresso a Arder' de Carlos Quiroga, poeta da Galiza)


A poesia é  despir-se ante os outros
                                           quando não estão
é um intento de apagar as feridas que nos delatam


A poesia é desvendar a existência do des-real
é tirar as telas do emburulho que eternamente nos oculta


A poesia é dissimulo
                             é raiva disfarçada de anima em pena
Mas também é pena
é pena sem espaço no infinito do espírito


A poesia é fame dum deus que não existe
e é fartura de comer sempre o pão da morte


A poesia é assomar-se à porta do abismo
sabendo que se calhar é uma miragem


A poesia é armadilha
             é deixares-te ver enquanto te escondes


A poesia é soidade que aprendeu a acompanhar-nos
é janela para as bágoas dum pranto silandeiro
                       numa guerra de prantos que nos aboujam


A poesia sou eu disfarçada para ver-te andar na minha procura


A poesia é sexo
                      é cavalgar com a ânsia do amante
                      até a inapetência e o silêncio


A poesia é a destilação do veneno letal da existência
ela é quem fica
                      quem nos vive
                                            quem nos sobrevive
A poesia é dona
A poesia é Deus.


Concha Rousia

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Encontro Casual e Inesperado com Macbeth



   (Trás a leitura de 'A Vida Extrema' de Mário Herrero, poeta da Galiza)


Não posso aceitar que te tornes estátua
foi a tua mão que me guiou adentro desta selva


Mas já agora temos de seguir
não vês mover as árvores?


Temos de seguir para não ficarmos engolidos


Sim
      essas das raízes que caminham
      essas que tem seiva vermelha
                              e talvez quente
e tem olhos
e cospem ventos com palavras alheias
assassinando o nosso silêncio
esse que tu tanto necessitas
esse que te nomeia com essências que só tu reconheces


E agora abouja-te o barulho das suas tripas esfomeadas
e tu premes os ouvidos
                         para poder seguir escutando o teu silêncio
                                                       que te acaricia o corpo
                                                       que te faz fechar os olhos
                                                       e te abre ao mundo
e já nada poderá contigo
neste ponto
                  no que olhou dentro ti o Universo


Concha Rousia

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nas beiras do ser


    (Imagem : Foto de Nilcéia de Almeida A. B. Pereira, Brasil)


Eu habito num recanto de mim
do que não tenho mapas
mas que sei
                  mais ou menos
                                        onde fica


Realmente eu sou nômada
sou vagamundo que perdeu
o endereço da sua morada
mas lembra que ela existe


Sempre soube reconhecer
quando me achava perto
mas apenas uma vez
estive
          realmente
                         ( dentro )


Lembro que foi maravilhoso
mesmo não recordando nada
lembro que foi assim único


Ó se a memória se pudesse
prender no fio das emoções...
escreveria eu agora meu canto
mas como traduzir em palavras
o inenarrável...   ?


Já até pensei que fosse sonho


Sei que tu estavas comigo
isso é o que mais me choca
para um vez que consigo
visitar o lugar onde realmente
habito...
             tu estavas comigo...


...ou eu pensei que estavas
que sem ser a mesma cousa
teve o mesmo efeito
pena não saber mais
                        onde tu habitas
para te perguntar
                        se sabes o caminho
se reparaste na entrada


Eu nem sei se havia portas
não lembro ter que abrir nada                         
de repente foi como se o mundo
fosse ‘um’ consigo próprio
e com ‘nós dois’ dentro...
a sensação durou apenas
uma ínfima eternidade
que passou logo para
                           se permanecer


Já pensei em perguntar-te
mas,
      para além de não saber
                            onde tu moras
sei que estás adormecido
e não quero incomodar-te
talvez fosse interromper
                              um belo sonho


Eu vou esperar...


Esperar, eu sei que sei
e a quem sabe esperar
tudo um dia lhe alcança
e eu ainda espero que
                             o lugar
onde a minha verdadeira eu
                                        habita
um dia apareça
                     a me vestir por dentro


Talvez então tu venhas de visita
sei que em qualquer outro lugar
tu não me reconhecerias...
esperarei
sentar-me-ei aqui
                           onde imagino
ser a beira do meu ‘ser’
                               e aguardarei.

Concha Rousia

terça-feira, 17 de novembro de 2009

NEREA




  (...outra prendinha para minha filha no seu dia de anos...)






  NEREA

  N
oite

  E strelecida
  R umor de
  E ternas
  A lvas


  Concha Rousia




  Recebido do amigo quis quid quomodo:


 NEREA


 N ascida de
 E ternas
 R aízes de
 E xcelência e
 A ltivez


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Faz dez anos...








     16-11-1999


     Nasceu Nerea
     e a mãe que eu ia ser
     nasceu com ela



    Concha Rousia




Hoje...
Nerea acordou sozinha e apareceu na sala onde eu sempre estou a escrever de manhã...
- Hoje acordei sozinha...
- Senta-te aqui...
Nerea sorri e deixa-se guiar numa visita virtual por 10 cidades Europeias... (uma por cada ano seu, em 3 delas celebrou ela anos passados.. Berlin, Barcelona e Paris)
Hoje há algo novo em nós duas e as duas o sabemos...
Li para ela o pequeno poema que hoje lhe escrevera.
...
- Não sei se o entendo mas sinto que tem coração... (sorri Nerea :)


E eu percebi em seus olhos, seus indefiníveis olhos, a infinita beleza do mundo, e ontem ficou a ser um passado remoto...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dos dilemas do ser


    (Foto de Nerea: Na sua primeira visita às Fragas do Eume, primavera 2009)

Dentro de mim há um rio
um rio que corre
                      contracorrente


É um rio rebelde
que não sabe aonde ir
mas que já aprendeu
aonde não quer que vá


Ele
    de todos os meus rios
é ao que dou mais atenção
é o meu mais querido...


Por vezes nem sei o que sinto
é tanta a confusão
              que este rio me causa


Passo a vida a pensar nele
por vezes até o confundo comigo
outras me cansa
          me esgota
          me farta
mas sempre sempre
          me vive.

Concha Rousia

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para Nerea, minha filha de 9 anos.
















 

Sobre o piano
os dedos de Nerea
a nascer música


Concha Rousia

domingo, 8 de novembro de 2009

Mundos


                                             (imagem google)

Quanto mais amo o meu mundo
              
  mais amo o vosso
                   mais amo os outros todos. 



Concha Rousia

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Poema mínimo


                                            (imagem google)

Bate em mim
                  o coração do mundo

E nele
        bateis todos

Concha Rousia

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Poema número 3


                                                      (imagem google)

Quando me entrego a ser
             essas pequenas cousas inventadas

Sei que me faço eterna
            e infinitas todas as minhas verdades.

Concha Rousia

Covas, 1 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O meu rio




A vida passa por mim
como um rio de gente
                               a me povoar

Hoje doem-me os que já se foram
                                    
Sinto também as dores dos que agora
                                                      passam

E doem-me os que virão
                                 quando o meu rio secar.

Concha Rousia

Covas, 1 Novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

De pedra

(Para honrar a memória do meu pai e da minha mãe novembro de 2009)

   De pedra

    De pedra a casa

                        De pedra as escadas

    De pedra a lareira
                e os calçadoiros do lume
                                           hoje apagado

    De pedra a pia
                e a fonte que lhe dá água

    De pedra o maçadoiro do linho
                                       agora banco
                                       sem gente para se sentar

    De pedra a chuva
                           e a cabana do lameiro

    De pedra o passadoiro da cortinha
                                e os marcos entre as meras

    De pedra o paredão
                             que faz nosso o quintal

    De pedra o horizonte
                             com suas lendas
                             a escrever a nossa memória

    De pedra a Anteira d'Antela
    Pedra-Alta na lagoa sangrada
                                testemunha silandeira
                                que ninguém cala

    De pedra o caminho do cemitério
    e de pedra a nossa última morada

    De pedra a noite
                           De pedra a noite
    em que esculpirei este mundo
                                          que me destes
    em qualquer outro que vier a o apagar

    Concha Rousia