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domingo, 10 de junho de 2012

Cartas sem destinatário



Capítulo I

Meu bem...

Queria escrever-te uma carta, uma carta normal, escrever-te como quem pinta uma acuarela com sentimentos, mesmo que Kafka a confundisse com uma carta de amor, para ele todas o são, mas eu queria enviar-te uma mensagem clara, ora é tarde... Ahhh como eu entendo de tarde, como eu conheço, como eu reencarno esse conceito...

Eu morro é meu desejo previve, queria tanto escrever-te cartas... cartas como aquelas que já te escrevi e tu nunca respondeste, mesmo sabendo que cartas devem ser sempre sempre respondidas, quem sabe tu não sabias que eram para ti, há tantas pessoas com os mesmos nomes, com os mesmos endereços... E eu perdi o teu, lembro que a rua tinha um nome agradável, um desses nomes que convidam a querer visitar... Mas perdi também isso e ainda que escreva as cartas que levo dentro já não tas poderia enviar...

Contudo o pior não é isso, não é o envio, o pior é que já não posso escrever-te, não, meu bem, eu não posso já escrever-te, eu perdi as chaves da nossa conversa, eu fiquei fechada fora, sem saber como aconteceu... eu desentendi teus códigos, ou é neles que já não me entendo, ou não me falam claro, ou não me falam a mim, sei lá... eu sei é que não me vejo já nesse espelho tão cristalino no que mergulhava sem ondas a perturbar minha imagem...

É tarde, sempre é tarde para quem nasce tarde... O relógio da torre se adiantou, ou eu me atrasei, o que importa isso...! O trem das sete vai passar e eu sem preparar as minhas malas, eu sem saber aonde ir, tenho apenas o nome do destino, o Sertão, mas o que levar, o que deixar...? A quem dirigir estas minhas queixas, a quem enviar estas cartas que eu já não vou escrever...?

Concha Rousia

Quintal d'Amaia 31 do 5 de 2012
9:00 da manhã

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