Que ninguém me diga de onde vem o vento, quando é em meu rosto que ele bate, e eu sei que de costas não se avança, como sempre sei onde ficas tu e onde fica Norte...
Que ninguém me fale de sua força quando é meu corpo feito carvalho que sente como lhe rouba suas folhas... converti-me em nuvem, mas nada adianta ser nuvem sem mãos para se apegar nesse céu sem deuses e nem montanhas... que dianho de Deus me fez ateia !! quero gritar aos céus...
Que ninguém me diga onde fica o muro quando são as minhas mãos as que o constroem, eu colocarei nele as primeiras palavras, sei sim, não eram minhas, as palavras sempre são prestadas, sempre são usadas, mas estas a mim me eram familiares, julguei que as reconhecia, e ao passarem me falaram, e mesmo que não me falassem, como não reconhecer o que um dia acariciou os ouvidos da alma...? sim, elas já foram minhas, se é que palavras se possuem, mas elas hoje não pararam, elas hoje passaram, passaram voando aqui no vento que hoje não sabe ser carícia... ahhhh passaram aqui tão pertinho, bulindo nas folhas dos carvalhos, mas não se detiveram, elas não se detiveram... e seguiram seu rumo sem mesmo me verem, voando nesse vento que hoje me embate para as levar a caminho do Sul, e eu não consegui pará-las e apanhá-las nem para sequer as colocar em meu muro...
Ora eu não me importo por palavras, palavras há tantas, tantas... que não é poeta quem não quer, porque são tantos os olhares desaproveitados, ou até descultivados...
Com cada palavra erguerei sua pedra e em breve terei o muro de meu castelo, serei a minha prisioneira, palavras é fácil achar, o mundo é todo feito de palavras, tu és feito de palavras, nós somos palavras, somos conversa, conversa que quando se derrube nos ferirá mais do que ferem as pedras quando caem... Preparemo-nos pois, meu bem, porque elas sempre caem, caem ferindo a gente... Talvez seria bom escolher agora o silêncio... mas receio que não vai ser assim, então a parede subirá para logo cair sobre nós, mas depois ficamos livres de paredes e ventos, e poderemos começar de novo os caminhos todos...
Sinto saudades dessa eu nova a renascer depois da caída do muro... sentindo a força do vento só nas costas, para me levar ao mar que é aonde sempre me dirijo, esse vento um dia será meu aliado, mesmo que hoje seja apenas inimigo que me derruba, mas eu sei que é só por eu lhe dar minha força, por eu lutar em sua contra... Por eu não aceitar, por eu não me render à evidência... porque hoje, eu sei hoje que meus rios não molham mais teus pés, teus pés cansados de tanta água salgada, cansados das correntes, e sem porto para aportar... ahhh eu sei, eu sei, como sabe o vento...
E sei também que em breve serão tantos os caminhos que só temo me perder na encruzilhada... será um leve medo, medo que se antecipa a esse eterno ir, mas depois eu vou, como essa folha de outono que sou, e vou e voo sobre tudo aquilo que fui é já não sou, voo sobre todos os céus inventados que não pariram deuses e nem deusas que me contem seus contos, vou... eu vou sentindo-me infinitamente liberada, mas hoje sei que ainda não é o dia da partida, sei que ainda tenho que construir meu muro para depois derrubá-lo...
(em construção...)
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