Ulisses, escuta
Penélope, cansada, a sentir-se está
suas mãos impacientes já não obedecem
tecem e destecem sem mais perguntar
mensagens que nunca a ti vão chegar
Ulisses, escuta
Do cais ela observa sem poder parar
tua nau vê perder-se nesse imenso mar
guiada por cantos de irreais sereias
que por ti elas chamam e obediente vais
Ulisses, escuta
O canto te vence, e cera não tens
Penélope sabe, p'ra ouvidos tapar
nem quem te ate ao mastro dessa tua nau
bebendo seus cantos sem remédio vais
Ulisses, escuta
Perguntou Penélope hoje a suas mãos
porque desteciam mensagem e mais
e elas reponderam rompendo o tear
juntando madeiras e armando uma nau
Ulisses, escuta
Penélope prestes a ir para o mar
não teme os piratas nem os vendavais
p'ra sereia não serve lhe cansa cantar
a essas tantas almas perdidas no mar
Ulisses, escuta
se a queres achar não vás buscar no cais
as celestes velas, perdem-se no mar
ninguém pode vê-la, camuflada vai
tecendo os seus sonhos ao sol e ao luar...
Concha Rousia
MENSAGEM - FERNANDO PESSOA
ResponderExcluirULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo--
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Bj
Hosamis, minha querida amiga, é bem certo que apenas é com aquilo que foi mitificado que construímos, então criemos, des-criemos e recriemos mitos à nossa medida ;)
ResponderExcluirBeijos, e boa noite desde este lado do mar