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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nas beiras do ser


    (Imagem : Foto de Nilcéia de Almeida A. B. Pereira, Brasil)


Eu habito num recanto de mim
do que não tenho mapas
mas que sei
                  mais ou menos
                                        onde fica


Realmente eu sou nômada
sou vagamundo que perdeu
o endereço da sua morada
mas lembra que ela existe


Sempre soube reconhecer
quando me achava perto
mas apenas uma vez
estive
          realmente
                         ( dentro )


Lembro que foi maravilhoso
mesmo não recordando nada
lembro que foi assim único


Ó se a memória se pudesse
prender no fio das emoções...
escreveria eu agora meu canto
mas como traduzir em palavras
o inenarrável...   ?


Já até pensei que fosse sonho


Sei que tu estavas comigo
isso é o que mais me choca
para um vez que consigo
visitar o lugar onde realmente
habito...
             tu estavas comigo...


...ou eu pensei que estavas
que sem ser a mesma cousa
teve o mesmo efeito
pena não saber mais
                        onde tu habitas
para te perguntar
                        se sabes o caminho
se reparaste na entrada


Eu nem sei se havia portas
não lembro ter que abrir nada                         
de repente foi como se o mundo
fosse ‘um’ consigo próprio
e com ‘nós dois’ dentro...
a sensação durou apenas
uma ínfima eternidade
que passou logo para
                           se permanecer


Já pensei em perguntar-te
mas,
      para além de não saber
                            onde tu moras
sei que estás adormecido
e não quero incomodar-te
talvez fosse interromper
                              um belo sonho


Eu vou esperar...


Esperar, eu sei que sei
e a quem sabe esperar
tudo um dia lhe alcança
e eu ainda espero que
                             o lugar
onde a minha verdadeira eu
                                        habita
um dia apareça
                     a me vestir por dentro


Talvez então tu venhas de visita
sei que em qualquer outro lugar
tu não me reconhecerias...
esperarei
sentar-me-ei aqui
                           onde imagino
ser a beira do meu ‘ser’
                               e aguardarei.

Concha Rousia

2 comentários:

  1. Belo! Esse teu ser recôndito, ser que todos temos mas que não sabemos e não conhecemos. Posso eu, por mim dizer: - eu vim de longe...
    mas de onde não sei...

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  2. É minha querida amiga... e andamos eternamente a essa procura, a poesia pode ser um caminho :)

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