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terça-feira, 28 de junho de 2011

Mapa e território

Hoje quis viajar por mim adiante e descobri que não tenho planos de quanto em mim foi instalado... Eu que coloco tudo em imagens, fecho os olhos e percorro os labirintos de todos os espaços que um dia habitei, inclusive aqueles lugares que visitei apenas uma vez ficaram gravados em minha memória, sigo-a, tento encontrar nela mapas das minhas cidades de vivências e nada acho... onde os preconceitos...? onde o amor... onde o amor....? Sou cega em mim, não vejo formas no interior de minha caverna onde a minha vida se vai armazenando sem eu poder ver como, sem saber por que ou para que... Gosto de olhar para dentro, mesmo sem ver, acho sons, harmonias e sobretudo acho as desarmonias... 

As perguntas insistem em quererem ser respondidas, e eu digo-lhes que talvez é que mesmo sendo no interior, porque lá dentro é onde somos... mas somos o de fora... essas flores cheirando sou eu, o caminho coberto de neve é eu, eu e ele somos a mesma cousa, as folhas voando polos meus olhos é eu, é eu fora, é eu dentro... Na cabeça é que me encerro para dormir, para descansar, para julgar, para rezar e para evitar ter que rezar...

Ontem vi como as gaivotas devoravam o céu resplandecente do Obradoiro, como se a catedral fosse um fantasmagórico barco perdido no mar de pedra de Compostela, imóbil no tempo... quis pensar nos tempos em que o povo plantou fogo na torre da catedral onde se esconderam a rainha Urraca e o arcebispo Gelmires, por razões distintas... o fume obrigou-os a sair... imaginei as chamas, o fume, senti o calor, o povo a clamar justiça... e a apagar o incêndio para salvar a Obra do Mestre Mateu agora que os indignos Gelmires, e dona Urraca estavam fora. Pergunto-me quantos dos indignados acampados hoje na praça conhecem esse episódio da nossa história... Essa cena toda eu desenhei-a na imaginação da memória enquanto via as gaivotas irem e virem como se elas sim soubessem o que nestas pedras se leva passado... Hoje re-vejo as gaivotas como se estivessem neste instante a voar em meus olhos... e compreendo o que sou...

Sou tudo que vejo, sou tudo que vi, tudo que cheirei, senti, imaginei, e sonhei... Sou a estrada que se mete por mim, sou a serpe que foge, sou a pedra inerte e sou o gaivota que voa... agora percebo por que não posso ver os mapas do meu próprio interior, os planos do que sou, agora percebo... agora vejo... o mapa, sim, o mapa, o mapa sou eu...

2 comentários:

  1. estás num bom momento, querida Concha.
    aproveite todo!
    bjs

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  2. Cynthia querida, sinto que sim estou num bom momento, fico feliz de que tu o notasses, abraços com carinho, Concha

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