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quinta-feira, 19 de abril de 2012

A mesma Melra

 

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
tão longe das incuráveis feridas da alma
desceu das nuvens em forma de lágrimas
e suavemente acalmou as dores da Terra

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
e tu não estás para acompanhar meus olhos
na viagem ao insondável e infindo abismo

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
e apenas a janela sabe e me oferece seus braços
para eu voar deixando atrás as minhas dores

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
e aqui continuam a doer as cicatrizes incuráveis
das despedidas dos mortos que nunca partem
por saberem do peso do legado e sem herdeiros

Hoje o amor poussou-se nas montanhas
mas eu não sei voar... não sei... não sei... não sei...
a Melra pegunta-me o porquê de tantos padeceres
ela convida-me a seguir seu exemplo, ser como ela
convida-me a dançar livre e sem memória como ela
que, como o gato de Borges, é sempre a mesma Melra
e jamais ela precisa lembrar cousa nenhuma...

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
e eu descobri que eu já sou essa Melra
eu sou sempre também já a mesma Melra
eu já fui minha tia Maria, sempre de preto
já fui a minha avó e a minha outra avó...
já fui uma das sete mulheres que povoaram a Europa...
eu já fui as sete mulheres mesmo...

Hoje o amor pousou-se nas montanhas
e eu pouso agora o peso do mundo aqui atrás de mim
vou deixá-lo repousar no leito ainda em morno desarrumo
e vou sair voando até tocar a pele das montanhas
vou regar meu tato com o amor pousado pelo céu
e depois vou regressar de novo a este meu ninho
porque eu já sou, eu sempre fui, essa mesma Melra...

Concha Rousia

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