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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ondas destiladas

Remedios Varo

Se já não doessem as suas ondas poderia ouvir aquela música que me enviaste num dia qualquer que nos tínhamos que separar, e a música ia ser um bálsamo, ia ser tu, ia ser as tuas ausentes palavras... mas hoje a música carece de sentido, hoje ela não cura, hoje, se eu a ouvisse, seria uma tortura, então calo as suas ondas que destilariam dor, tapo os espelhos, e curo da alma na escuridão...

Para isso me serve ser filha de uma memória milenar, que neste trance me salva, e me permite beber um copinho de aguardente-cachaça sem que ninguém tenha que realmente ter morrido, ou talvez tenha, como saber?! a gente morre muito nestes tempos de outono, talvez já chegou o inverno e eu nem me tenha apercebido...

Então guardo silêncio e procuro dentro o antídoto para o veneno que ameaça a minha existência, eu sei que dentro ficam todos os remédios quando fora já não resta nada... como sei que desta vez o remédio não pode ser desatado pola música, essa que um dia carreguei na pasta de curativos do meu lap-top, junto de uma foto tua, e talvez um poema, para levar comigo a Oriente, e lá ela me levou no seu colo quando eu necessitava esconder-me da saudade, mas hoje ela não pode, porque eu hoje ainda não sou capaz de conjugar o verbo amar em tempo passado...

Concha Rousia
 

4 comentários:

  1. Exatamente, Sandrio, essas duas palavras definem à perfeição este texto, obrigada pelo carinho da tua presença, abraços, Concha

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  2. Simplesmente perfeito, combinações de sentimentos unicos. Adorei! Maravilhoso! Abraços fraterno welldebroi.

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  3. Obrigada pelo carinho Wellington, pelas palavras pela presença... Sabido é que o existir necessita testemunhas, e o existir em dor (mesmo que for poética) necessita testemunhas que fortaleçam, como a tua a mim me fortalece hoje, abraços igualmente fraternos, e de gratidão, para ti, Concha

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