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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Perdi meu Unicórnio...

Eu nasci quando ainda a humanidade andava ao ritmo da Natureza... Sei, sim, muito antigamente, há quanto! mas não no khrónos... pois tenho apenas quarenta e oito anos ou, para falar com propriedade, deveria dizer que ando nos quarenta e nove. Ando, sim, e é hora de reflexionar... 

A Natureza não caminha sempre ao mesmo ritmo, ou velocidade, o mesmo que um carro (de bois) não avança igual costa abaixo que costa acima, que pela planura... Assim corria a vida, umas vezes devagar e outras depressa... Tudo acompassado. Neste tempo de primavera o povo andava como as andorinhas, frenético, sempre a plantar, a regar, a madrugar, a trabalhar, a passar calor, a suar, a curar de tudo... depois que a primavera e o verão fossem embora, vinha o tempo da calma, tempo para meditar e cuidar da vida interior, o tempo de folgar, passar frio e inventar o lume... e viver na companhia e os contos da lareira... 

Mas hoje..., hoje tudo corre vertiginosamente, tanto que é como se ficasse quieto, parado, não percebemos o que realmente se passa, a velocidade mistura todas as cousas, como denunciaria uma canção do Sílvio Rodríguez, se é que ele ainda canta a estas cousas monstruosas do capitalismo... Hoje em dia há lugares no planeta, onde as pessoas passam frio no verão (ar condicionado endemoninhado) e passam calor no inverno (sistemas de aquecimento exagerados) As pessoas trabalham sempre ao mesmo ritmo, a maioria sempre pensando em apanhar uma baixa medica, para poder parar aquilo... comem sempre o mesmo, porque sabe tudo igual, os tomates a plástico, a carne a hormonas de crescimento, os frangos a... não sei... eu não sei a que sabem os frangos... antes sabiam a rã do rio Lethes, mas agora... que o peixe sabe sempre a 'panga congelada'... Lembro quando eu podia diferenciar o sabor da boga do da troita, meu pai pescava das de pintinhas vermelhas no rio da Veiga de São-Paio, e no inverno caçava...  Mas agora tudo está caçado... O outro dia uma criança numa escola, mandaram-lhe fazer um desenho de um galo e desenhou um frango desses embrulhados com plástico transparente do super-mercado... 

A onde pensamos chegar com esta velocidade? Vou nesse trem, mas me apego a tudo que pode pegar em mim, busco desesperadamente parar de correr a esse infinito inalcançável que é a meta do progresso... Hoje eu vi como a Melra e as andorinhas falavam a linguagem das roseiras e do pessegueiro, enquanto eu quase perdi minha fala, sozinha no quintal, e senti imensa inveja, imensa falta, arrependimento até... por ter evoluído a este estádio de des-consciência...


4 comentários:

  1. Concha: tudo por uma nova suavidade; o tempoda delicadeza. Um texto terno, dizendo do que andamos perdendo por querer o fenêtico e voraz. Uma ode à ternura. Amei... Abraços com carinho, amanhecendo nos quintais... jorge

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  2. Meu querido amigo Jorge, acho que esta Ode está inspirada em minhas voos pelo 'Utopia Ativa' há sim talvez neste texto uma nova suavidade, fruto da influencia de tua escrita na minha, nunca antes reparara como as rosas falavam com as andorinhas... Amanhecemos, sim, amanhecemos, grata deste amanhecer de nossos quinta-blogs rs, Abraços com ternura, Concha

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  3. Querida Concha aberta, seu texto me remete a outro, outro que amei como a este. Trata-se de uma crônica de Rubem Alves intitulada "A Pedagogia do Caracol: a lentidão é virtude a ser aprendida". Coloco aqui o link se desejar ler: http://pedagogia.zip.net/arch2005-08-14_2005-08-20.html

    A lentidão, Concha, precisa ser sacudida pois a adormeceram em prol do capitalismo. A lentidão, Concha querida, a lentidão é necessária para se refletir, para se ser, para se estar em plenitude consigo; a lentidão é o faz parte da harmonia com suas rosas, sua filha, sua gente; a lentidão... Lentidão! Lentidão! Queria ter o poder de redar ao mundo essa lente...de despertar consciências para essa virtude...mas...quem é lento, pelo menos onde vivo, onde moro, é acusado de bobo, palerma, aquele que fica pra traz... Mas vamos seguindo, na sabedoria do caracol a apreciar o caminho e seus grandes pormenores. Bjs

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  4. Hosamis: minha amiga querida tu me lees com os olhos do coração... :) e eu escrevo com as mãos do coração também rsss Abraços com carinho e ternura infinita.

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