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quinta-feira, 16 de junho de 2011

16 de Junho de 2011

Hoje a saudade atou minhas mãos e não me deixa atender a tudo que aqui parece urgente, a querer exigir de mim uma resposta, de nada serve que eu não tenha essa resposta... Mas a saudade por vezes resgata-me de esse absurdo mundo de normas inventadas a se cingir sobre uma natureza selvagem como a minha, passo a vida nessa luta na que tenho minhas aliadas... a tristeza, a raiva, a solidão, a música, também tenho a música, mas hoje foi a Saudade a primeira a me aguardar na saída do meu quarto... do corredor vi a luz azulada do amanhecer entrando no quarto vazio de Nerea... Abri a janela e desejei voar sobre o quintal, minha alma peneirada sobre a relva... sendo música como a que a Melra me oferece desde o Pessegueiro... Decidi assistir o concerto, afinal minhas mãos de guerreira inútil não vão hoje poder contra tantos impossíveis que já foram desenhados, de repente lembrei o sonho da noite... a Terra feita uma enorme lamaceira a me engolir, do outro lado da Veiga vinham as vozes a meus resgate como quando de miúda sonhava com o lobo... mas eu, por mais que batalhei não consegui avançar a me reunir com elas... foi aí que senti na minha pele, tocando-me, a voz de Nerea e a lama se tornou água transparente, lembrei aquele poema que ela escrevera sendo pequeninha...

'As rãs brincam
no rio dos sonhos
d'águas cristalinas' (Nerea Rodrigues)

Sim, ela por vezes me imita para saber onde eu habito, e agora eu habito esses momentos idos, que como sementes, ficaram a me aguardar para germinar nesse futuro... A vida foge-me por entre os dedos, corre como um mar de centeio pelos meus olhos... É junho, mas eu só sinto o longe que fica a minha infância, e que meninha me sinto, tento crescer num mundo que me vem demasiado grande, como um fato herdado que eu não consigo encher... Visto-me com todas estas palavras esfarrapadas que cobrem meus sentimentos, e olho o céu, uma bandada de pássaros passa anunciando um acontecimento... e meu rosto lembra logo que sou indígena, e centra-se na tarefa adivinhadeira, esquece a ordem do dia, toda reunião séria precisa de uma ordem do dia, a Melra decide voar pelo quintal interrompendo seu concerto, e eu voo com ela... eu sempre voo com ela... volto nova, nua, despida da saudade e vestida apenas com a luz do dia... ... (em andamento)

6 comentários:

  1. concha: viver é recomeçar. Momentos frágeis que evaporam, o caminho que nos absolve... e assim o teempo rodopia - derrotas, vitórias; sonhos, vazios... vamos tecendoa vida, texto belo. abraços com ternura matinal, jorge

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  2. É Jorge é, eu sei sempre reconhecer esses momentos frágeis, até me faz forte essa habilidade mas dói nalgum lugar oculto e incurável... Abraços com muita ternura, Concha

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  3. Recebi lá no face de meu amigo Ricardo Costa Aguirre, e quero que as suas palavras fiquem aqui perto por isso trouxe para aqui comigo... Deixo aqui com um abraço com carinho e minha gratidão...

    Ricardo Costa Arribe:

    Inspirador ...
    É difícil aceitar que non hai unha resposta e manter-se acougado, consciente da ferida, quizais herdada da estirpe. A terra nen sempre é nutridora e ás veces se manifesta voraz, como a morte. A redención anunciando a metamorfo...se - o cágado saído da lameira e convertido en ra das limpas augas - ven coa voz da infancia como promesa de futuro. E inda que nos aliviemos co voo da merla safando-se da gravidade da terra, sabemos que a aqua vitae dos soños é onde podemos atopar a menciña.

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  4. Só quero dizer que estou aqui. Às vezes não comento, mas leio todos os dias os seus textos...Há escritos seus, Concha, como esse, de tão intensos em emoção sinto-os que me travam, e sinto que os profanaria se comentasse...por isso o que tenho a fazer é apenas uma ação: curvo-me silenciosa diante deles, de você. Bjs

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  5. Hosamis, minha amada amiga, minha irmã de alma e língua, me emocionas tanto que és para mim, não duvides, uma instigadora... eu sou um ser tao coletivo que quando eu escrevo, todos que respirais dentro de minha alma escreveis comigo, talvez por isso te sintas tocada pelas palavras, eu me sinto tocada pelas tuas, sei que moro em teu coração... Beijos amiga querida, só espero poder-me fazer famosa e ir-te ver no Brasil rsss (sou eu a sonhar, mas eu gosto de sonhar...)

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  6. Para mim seria uma honra te receber! Quem sabe venha aqui, em algum encontro de língua portuguesa a declamar poemas nesse sotaque tão lindo que tens (de língua portuguesa misturado com castelhano...rsrs). Eu amo o povo galego pela língua que tem, e que chega a minha alma em tão fervorosa compreensão (e que para mim é um mistério tal empatia); e eu amo a Galiza pela Concha, e através dela, que a fez em seu solo; e ainda agradeço a Concha por desvelar o segredo de sua flecha da comunicação: o social. É assim, é assim...você nos atinge por que nos tem! Bjs

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