Seguidores

sexta-feira, 2 de março de 2012

Fui

 
Houve um tempo em que fui índia
e corri descalça pelo campo
sem saber que o campo era meu
mas era
sem eu saber e sem saber o campo
-
e era livre sem saber que era
-
eu era...
sem saber que existia não ser
sem ter que achar palavra para o ser
eu era...
-
e agora ando à procura
sabedora de que eu fui
retorno à minha memória
e tudo muda de lugar como pó ao vento
inclusive aquilo que era eterno
ficou velado pelo tempo presente
sem futuro
sem pés nus
sem relva orvalhada a me inundar o espírito
...
nesse tempo que fui índia
fui água
fui rio
e fui lagoa...
sem saber que era
e agora volto a esses lugares inexistentes
e despovoam-se minhas memórias
e fui águia e amei a montanha
e ela que eu habitasse seu céu
e fui lobo a encher de som a noite
e fui lua que ama a terra
sem saber que a ama
e fui pessoa sem saber que era
-
e agora sou nada
e nem posso reter o que fui
tudo tornado areia no deserto da minha memória
sei que hei de voltar a mim
um dia
que hei de reclamar meu ser
um dia
mesmo ser eu sem saber que sou eu
mesmo ser tu sem saber que sou tu
mesmo ser pó sem saber que sou pó

Concha Rousia 

 

3 comentários:

  1. A certeza da menina que foi está na incerteza da mulher que é. Daí me vem a curiosidade: será que a menina que foi tinha a certeza da mulher que se tornaria?

    Saudades daqui! Beijos Conchinha!

    Hosamis.

    ResponderExcluir