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segunda-feira, 11 de julho de 2011

zero-quilómetro

(Amar é descobrir o zero-quilómetro do coração...)

Lembro o tempo em que meu desejo era ser grande, ser gente, crescer, furar no saber do mundo dos adultos, um dia imaginei o que seria ser da altura de um castanheiro, fechei os olhos e tentei imaginar como se veriam as cousas desde às nuvens, que era aonde chegava a coroa do castanheiro no meu olhar infantil... Nesse tempo eu, vejo isso agora, olhava só para fora, o mundo era todo fora, eu era fora também, sim, é fora que nos vamos construindo e vamos incorporando tudo, vamos guardando os rastos dentro, fabricando nossas tatuagens internas, mais ou menos permanentes...

O meu mundo de fora, hoje um mundo extinto nesse etnocídio que nos silencia, à espera apenas de que se esgote o alimento para nossas almas, nestes tempos em que não é bem visto matar corpos... Esfomear nossas almas maltratadas, nem será visto.... Que urgente era uma 'Deu-la-deu' que com a farinha que nos resta mandasse fabricar nossas bolachas, a mim hoje parece-me que deviam ser feitas de milho branco cozido no leite, com amendoim torrado e moído, talvez adoçadinhas, canjica ou mungunzá, já só bolachas feitas assim podem confundir ain da o inimigo a respeito de nossas provisões para a subsistência, para a resistência. Façamos pois nossas bolachas e atiremos-lhas ao inimigo, como eu atiro hoje este texto, faço com toda a minha força desejando que chegue bem longe...

Mas não vou continuar por aí porque o urgente hoje em mim vem-me de outros medos, medos dessa eu que não cresceu como o castanheiro que um dia lhe falara sobre nuvens e distâncias... Eu hoje estou com óculos de olhar para dentro, olhar essas cousas que foram entrando e não sei onde colocar, algumas delas eu conto aos amigos, as amigas, outras eu conto apenas a ti, meu bem, mas tem outras que nem a ti posso contar, a ti que és o ser pelo que o meu coração palpita com seu ritmo mais acompassado, e também mais descompassado... O coração é sábio, na cabeça apenas há conhecimentos uteis e inúteis, mas no coração há saber... o coração é quem descobre o sentido, o significado de tudo, e conhecer-te a ti foi essa grande descoberta, foi descobrir o zero-quilómetro do coração, do amor, da paixão, da ternura, de deus... esse o 'starting point', o lugar onde o Universo podia hoje renascer da nada, ou podia ser absorvido por um buraco negro sem padecimentos...

Mas mesmo assim o silêncio é mais alto do que podem alcançar as minhas palavras, que não furam céus nem tocam nuvens, por isso, meu bem, minha vida, deixá-me ir sem despedidas, se visito contigo esse ponto do coração, esse meu zero-quilómetro, então eu sei que não parto, eu já descobri isso, eu já sonhei isso, eu já aprendi isso, eu já esqueci isso, e agora eu escrevo isso...  

É deste púlpito em que me subo, porque sou pequeninha, que eu choro, que eu grito até libertar minha alma aprisionada entre as palavras que não são nossas, minha alma peregrina, minha alma sem destinos nem deidades para guia-la, minha alma confundida, roubada de liturgias pela Igreja opressora, pela Igreja que colonizou e esvaziou de sentido nossos ritos... Essa Igreja que ontem perdera o Códice Calistino porque não dá valor ao que é verdadeiro, essa Igreja que nos roubou de nosso mundo e nos arrebatou nossas inocentes palavras da infância, essa Igreja da que eu nem me quero lixar a falar... Mas aqui fico, sem Deus e sem consolo... É por isso que choro, é por isso que grito, e me escondo para não retornar sempre a meu zero-quilómetro...

Concha Rousia

6 comentários:

  1. Concha, teu texto está lindo e muito bem recheado!
    Gosto de ler-te...e confesso que por vezes eu também busco o meu "zero kilômetro"...
    Abraços...com ternura...Mila.

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  2. Obrigada, Mila, pela visita, a leitura, e as palavras de carinho... Abraços, com ternura, Concha.

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  3. concepção

    [Do lat. conceptione, por via semi-erudita.]
    Substantivo feminino.
    1.Biol. O ato ou efeito de conceber ou de gerar (no útero); geração.
    2.O ato de conceber ou criar mentalmente, de formar idéias, especialmente abstrações.
    3.P. ext. Maneira de conceber ou formular uma idéia original, um projeto, um plano, para posterior realização.
    4.Noção, idéia, conceito, compreensão.
    5.Modo de ver, ponto de vista; opinião, conceito.

    Conceição. Nessa internet tudo se encontra..rsrs. O seu nome é lindo, lindo, lindo! É perfeito, pois você é esse ser lindo: tem uma alma de criança! Criança curiosa, aberta para si e para o social; criança que não se contenta, deseja explicação, por isso gera, planta, mesmo em terreno arenoso, planta, e colhe, colhe amor... colhe amor, porque recheada de amor (como disse nas entrelinhas a sua amiga Mila).

    Bjs e estou contigo sempre, sempre estive, mas de repente nos encontramos...

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  4. Hosamis: minha exagerada amiga, tens umas cousas que me fazes rir, bom, a tua presença sempre vem da mão da alegria, mesmo nos dias meio tristes, ou com nuvens no céu, contigo sai o sol sempre em meu rosto... rss O meu nome sim... o meu nome... onde tu encontrarias? Essa eu nem anda pela Internet, hehe Sim, essa é a criança, a Concha é que a traduz para o mundo, para este mundo, que certamente não é o dela. Beijos e abraços com ternura infinita de criança, Concha (e também Maria da Conceição :)

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  5. Heheheh... sou curiosa e o que busco encontro. Escuta, fazer você rir é como um calmante para mim e tomo isso como uma vontade que vai além de mim, só sei que desejo fazer e faço com alegria ... e olha como consigo!Hehehe... e continuarei fazendo.
    Menina, estou com tanta energia aqui dentro que, creio, escreverei um livro em dias!!! Estou naquelas idades de ir-se embora os sangues...heheh...pois é, gente, que vou fazer com tanta energia Concha?! Tantos projetos, tantas ideias aqui, tantas eus, tanto, tanto...

    Bjssss

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  6. rsrsrsrs Hosamis, linda, me contagio de tua alegria, não consigo (nem quero) evitar, rio contigo, sinto a tua envergia aqui, minha brasilega querida, que bom que nossos caminhos se encontraram... te adoro... minha Deusa...
    Beijossss

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