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segunda-feira, 16 de maio de 2011

MANIFESTO DO CLUBE DOS POETAS VIVOS



MANIFESTO DO CLUBE DOS POETAS VIVOS

Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, (como alguém disse uma vez). Respeitamos a palavra como forma autêntica apegada à vida, como vida da vida com vida própria, porque a palavra primeiro foi rio, logo mar, mais tarde montanha e voz. Por isso nos comprometemos, hoje, com a palavra para fazer dela curso verdadeiro, fala e coração.
Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, (como alguém disse uma vez), não reconhecemos fronteiras que separem por cobiça a um e outro ser, não reconhecemos estados que nos dividam para nos escravizar, não reconhecemos guerras que nos matem para delas se beneficiarem os que dividem o mundo e não respeitam culturas nem o direito a ser diferente na diversa riqueza universal, e só habitam para semear o ódio.
Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, (como alguém disse uma vez), aplicamos a palavra contra todo esquecimento. E falamos em alto, conversas demoradas com nossa Terra Mãe, que nos deu o berço, a lua, a língua que é verbo feito amor para comunicar livres aos filhos, as filhas, na alegria e na dor.
É a Mãe Terra quem por nós fala, clama: nos chama através do vento poluído ferindo a entranha da nossa paixão, nos chama através das águas que morrem gelando a vida à nossa volta, nos berra nas árvores queimadas intoxicando o sonho, contrariando a alegre visão, grita na voz dos e das que não têm voz e inventa em nós a palavra primeira que incita a rebelião: NUNCA MAIS !
É a palavra da Mãe Terra que fala na nossa língua, vive na nossa língua, chora e morre na própria língua quando esta é contaminada de palavras alheias que a sufocam e a matam. Por isso o compromisso com a língua é o compromisso com a vida, como a vida dum povo. Com uma forma de ser, uma forma de ver e sentir o próprio mundo. Por isso, nós, poetas, respeitamos e legamos a voz que vem das mães, das avós, dos pais e avós de nossos avós, por isso não submetemos a voz ao comércio do verbo, nem entregamos a fala em troca dum suposto parabém que nos calme a consciência. Por isso escrevemos na norma que une povos diversos, mais de 200 milhões de vozes nascidas neste ventre universal.
Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, (como alguém disse uma vez), e juramos não voltar os olhos quando a injustiça nos atinja.
Juramos pois:
1.      Não olhar para outro lado, quando o filho, a filha, sinta necessidade de verbo, de carne, de lembrança, da história que lhe foi roubada e juramos, a dia de hoje, para ele, e por ela, resgatá-la.
2.      Não olhar para outro lado quando a opressão em quaisquer das suas formas: de género, de classe, se apareça em suas diversas formas diante de nós.

3.      Não olhar para outro lado quando o dinheiro nos compra a alma, quando a barbárie de cimento nos transforma o litoral, nos esmagam as paisagens da infância, nos reduzem em guetos, nos castigam com a marginalização.

4.      Não olhar para outro lado enquanto sofrem à nossa frente persecução por
causa duma justiça sempre ao serviço de aqueles que nos maltratam a alma,
nos destruem o espírito, asfixiam em nós o amor.

5.      Não olhar para outro lado enquanto o mundo agoniza, os poucos se enriquecem, os muitos emagrecem, e morrem em suas guerras por sua voragem insaciável de ambição criminosa.

6.      Não olhar, nunca pois, para outro lado... como condição mínima para usar e prezar como um tesouro a palavra que e voz.
Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, eis-la nossa promessa, e nosso é o dever de cumpri-la: levar a voz àqueles, àquelas que foram dela despossuídos, alcançar todos, todas juntas a dignidade que o tempo dos olhos nos borrou, enquanto dormíamos sem conta numa LONGA NOITE DE PEDRA que século a século nosso espírito secou.

Somos o clube das poetas e dos poetas vivos, resgatamos a dignidade a através da palavra, e a palavra nos obriga a sermos dignos também nós.

Clube dos Poetas Vivos 

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