Remedios Varo |
O professor de linguística da Universidade de Maryland, amigo e de Betanços, Uriagereka, mostrou-me há tempos como todo conceito, toda ideia, era espacial; por algum motivo eu lembro agora dele, e de que lhe devo carta desde há demasiado tempo; mas este escrito é mais urgente, embora menos importante, pois tenho que resolver meus dilemas, nunca sabes quando te vão pedir que feches a mala...
Acho que eu devia começar a pintar, pintar a sério, esquecer meu trauma por a minha primeira professora de pintura ter condenado a minha margarida gigante à sua eterna inexistência... 'uma margarida gigante, na frente de lindas montanhas, e por cima com seu talho feito de ossos humanos não é bonito' (bom ela não falava a minha língua, nem, pelos vistos, a da margarida). Foi por isso que eu decidi deixar secar aquela margarida, apagá-la com cores escuras, mas a sua imagem segue a viajar comigo, mesmo em silêncio, mesmo em silêncio...
Onde vou eu plantar a margarita condenada...? A ela dediquei meu haicai, porque ela retêm a cor do sol, porque sabe que a noite passa, mas a noite não passa, a noite só passa para que confiemos e então ela regressa... Mas a noite não engana, quem engana é o dia, a noite embebeda mas ela não engana, ela exagera, mas ela não engana, ela obriga a abrir a mente mas não engana, como sim engana o sol, o sol do verão do São Martinho que quenta a pele mas não aquece o corpo.
Concha Rousia
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