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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Eu de mim



Por vezes o meu pensamento se faz um bocado complexo demais para ser seguido por meu Ser tão simples... Aí então eu me paro, reparo, apanho os nacos como batatinhas para encher meu canastrel de cousas guardáveis... No tear da vida aprendi a ir juntando tudo que era bom, e também a resguardar tudo que era mau... A vida nos mostra como ir fazendo pequenos presídios onde refugiarmo-nos... Mas de quê? Talvez, sem dúvida, dos próprios perigos que ela, a nossa própria vida, vai construindo...

Por que tu fazes isso??? Gostaria de me atrever a responder, ou pelo menos de me atrever a perguntar... Mas prefiro ir abrindo gaiolas e deixar fugir fantasmas, fantasmas que tem autonomia, e conhecem os caminhos todos de volta a casa... Como é bom ser casa para alguém, para algo, mesmo que seja dolorosa a pertença... É por isso que eu te procuro, é por isso que Rosalia escreveu aquele poema ao desespero de não ter um companheiro, um homem, um hominho, mesmo que seja o mais ruim do mundo...'mesmo que seja como um grão de milho, mesmo que me mate e me esfole...'

Fantasmas ocupam nossos guarda-fatos, algumas pessoas corajosas, destemidas mesmo, abrimos para arejar... Quando regresso de viajar, ainda não centrada no meio do meu ser, eu me atrevo a quase tudo... Aí eu então deixo sair passear minhas entranhas... Abro e corro a contemplar o que for que sai... Quero ser surpreendida... Hoje vem da mão da música... Ahhhhh aparece a voz envolvente do Aute... Muito do que amo foi guardado com a língua que o inimigo usou para colonizar meu mundo emocional, assim eu amo Luis Eduardo Aute... Tenho um amor imenso por algumas vozes que me matam, bebo-as como se fossem uma dose de heroína, sinto como acalma dentro qualquer cousa doida, e à sua vez sei que rasga minha fortaleza...

Como é complicado ser eu, acho que nunca vou ficar acostumada, sou a minha vizinha que envenena o seu espelho... Por isso algumas vezes, como hoje, eu decido não ser mais eu, decido ser uma expectadora de mim, só assim eu consigo me ver com a crueldade necessária, com a naturalidade precisa, e com o amor suficiente para me resgatar no final, embrulhar tudo e fechar cada pacotinho em sua caixinha, 'reseteada' e nova... Então vou à janela, à real, à que abre o quintal para os meus olhos... respiro, meus pulmões se saciam da vida.. fica em mim espaço para mais vida, para mais dor... e eu sorrio, porque eu tudo levo em mim com o mesmo amor...

Concha Rousia



Um comentário:

  1. Feliz Páscoa amiga! Adoro seus posts e suas palavras neles contidas. Abraço com meu carinho.

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