Dreamcatcher |
Ontem, não o ontem de hoje, mas o ontem de ontem, foi um dia estranho, muito estranho, se eu escrevesse um diário não saberia como qualificar, não nos termos clássicos de bom ou ruim, de útil ou inútil... Essa analise só me serve para certificar-me de que esses termos absolutos não existem. A noite veio completar esse dia incompleto. Pergunto-me se existirá uma matemática para completar os dias com as noites e as noites com os dias. Mas, como em tudo, não há respostas, há perguntas, que são sempre respostas se as soubermos olhar direito. As perguntas só são um disfarce de uma resposta...
Contudo a minha noite completou o meu dia, não sei se para bem ou para mal. Os sonhos interromperam o meu descanso e hoje sinto como se regressasse de uma batalha. Antes de ir à cama li uma mensagem de um amigo, o amigo Coração de Aguia, que me contava a historia dos 'dreamcatchers' que nascem da importância que os sonhos tem para a vida dos Ojibwe, povo que vivia nos Grandes Lagos americanos... Interpretar os sonhos era a tarefa mais importante que a pessoa tinha durante a sua passagem pela Terra...
Acho que hoje em dia vivemos tão levados pela ideia de dirigirmos os nossos sonhos que até esquecemos entender sua função, e não estou a falar em termos freudianos aqui; contudo os meus sonhos nos últimos temos dedicam-se a me dar trabalho... Ontem foi um desses dias, ou noites, ou dianoites. Nem sei se era preocupação ou simples recreio estético, ensaio da vida, que se passeia por meus sonhos... Eu sei que tenho algo que descobrir neles... Ora ontem, ia, como muitas vezes, com muitas pessoas, nem sei se eram amigas, mas eu sentia-me à vontade ao seu lado, notava auras positivas por toda a minha volta... andávamos por cima de uma enorme muralha, podia ser a Muralha Romana de Lugo ou também a Grande Muralha da China, ou uma mistura das duas, embora pola da china nunca andei; logo descobri que os que controlavam a passagem pelas grandes escadas eram japoneses, havia que ir descalços... e levar uma pedra... de repente vi que eu já ia descalça, quando descobri esse fato notei que era difícil andar por aquele chão rústico. Perguntei-me onde teria eu deixado os meus sapatos...
As pessoas que caminhavam comigo iam calçadas, só era preciso se descalçar mais para a frente, quis voltar e ir na procura dos meus sapatos, mas sentia receio de me perder e ficar sozinha naquela grande caminhada. Então vi que os levava na minha mão esquerda, pendurados nos dedos como se levam sempre, o coração e o índice, vi que eram os sapatos da minha filha, os que ela chama 'as bailarinas'; senti um grande alivio e continuei a andar. Apareceram logo as enormes escadas polas que havia que subir levando a pedra na outra mão, pedra para ser entregue aos guardas... Eu não tinha pedra... As escadas ascendiam quase verticalmente por uma piramide Maia, reparei que havia vendedores de pedras, pedras bonitas, rusticas por toda a volta excepto por uma cara, onde tinham alguma cousinha talhada, nalgumas havia um buda, eu tinha na mau uma coroa que se lhe partia facilmente, deixei-a com cuidado, eu preferi apanhar uma pedra das do chão, uma qualquer, e assim fiz...
Quando olhei à minha volta estava sozinha, todas as pessoas subiram já para dormir nos seus quartos que se foram distribuindo enquanto eu andava às voltas com as pedras... Aquilo resultou ser um grande hotel, eu tinha que ficar na base, e eu teria preferido ir ao topo, mas já o quarto me tinha sido designado, foi como estar imersa numa obra de Kafka, eu queria ir para a cima, até porque aqueles que eu mais gostava estava lá no último andar da piramide, que longe me sentia, acordei perguntando-me se teria a coragem necessária para subir lá a cima...
De manhã fiquei a pensar se algum dreamcatcher, ou 'Filtro dos sonhos' como ficou conhecido na nossa língua, que eu nem sei que tenho por aí colocado mas que estava a funcionar, agora eu teria que interpretar o que o sonho me vinha contar... O que os meus sentidos tinham enxergado quando a noite caíra e o ar se enchera de sonhos, que mensagem do Grande Espírito vinha nessas imagens filtradas polo meu dreamcatcher. Passei o dia a pensar se não será que eu não mereço escalar na piramide, se eu devo permanecer na base, não sei, tenho medo em errar a mensagem que o sonho me trazia, como tenho medo que desejar o que não me pertence... Acho que eu quero apenas aceitar qual é meu destino, e se tudo que consigo eu devo reter ou dar de volta à vida...
Decidi que na próxima viagem a Norte América vou trazer um dreamcatcher para pendurar no meu quarto, para que permita entrar os bons sonhos, e detenha os sonhos ruins, esses que depois desaparecem com o primeiro raio de sol... Eu sei que dalgum jeito inexplicável racionalmente, procedo dessas saudosas terras dos Grandes Lagos... E enquanto pensava nisso, já bastante acordada, lembrei que a pessoa que dormia no topo da piramide tinha que sair em breve de viagem para os Estados Unidos, então julguei entender melhor a mensagem do sonho, mas não me atrevi a seguir interpretando. Não vou continuar até ter meu dreamcatcher, meu escudo de guerreira noturna...
Concha Rousia
O sonho nos fascina e a incerteza nos move
ResponderExcluirOs sonhos... sim, nos fascinam Sandrio; e as incertezas... sim, nos movem. Agora lembrei-me de um livro guardado ali, no armário, que comecei a ler há anos, muitos anos, mas nunca terminei, porque me bastou apenas o título para adquiri-lo: "A Maravilhosa Incerteza". (rs). A incerteza é uma serpente a nos pentear os cabelos. Como é bom quando vamos ao salão de beleza e o cabeleireiro fica a mexer em nossos cabelos, dá sono, vamos nos entregando e conversando e... de repente estamos a contar toda a nossa vida ao cabeleireiro: isso é fascinante! As incertezas nos fazem ir ao seu encalço para entendê-las, explicá-las. Os sonhos... os sonhos, alguns, fazem isso com a gente. Há determinados sonhos que nos perseguem por toda a vida, desejamos explicá-los, colocar racionalidade ali, colocar ordem no caos de emoção (de incertezas). Fico pensando se isso é possível ou se os sonhos são presentes para nós escrevermos sobre eles, afinal de sonhos já surgiram grandes obras; como esse seu texto Concha, absolutamente envolvente. Obrigada por escrevê-lo, por tentar entendê-lo e colocar essa vontade em literatura. Desculpe-me por esse "comentário" assim grande, é que fui escrevendo, escrevendo (escrever é tão bom, né?!). Precisaria de muito mais espaço para continuar essa escrita, mas basta. (rsrs). Beijos minha amiga querida e boa noite, já são horas aqui.
ResponderExcluirHosamis.
ao entardecer
ResponderExcluirquem consegue se mover
na beira do lago ?
Pois é Sandrio, meu amigo, o sonho nos fascina, tira de nós... Obrigada pela presença e o carinho, abraço grande
ResponderExcluirHosamis, amiga minha... "A incerteza é uma serpente a nos pentear os cabelos" Ui ui... adoro isso, acho que isso é exactamente assim, ora eu não adormeceria se pensasse numa serpente em meus cabelos, mesmo eles ser (os meus cabelos) ser como serpentes rs... Eu acho que os sonhos são experiências nossas, dignas de ser integradas nas nossas vidas, e em nossos textos, como verdadeiras aventuras...
ResponderExcluirAbraços com carinho, e um feliz fim de fim-de-semana :)
Que belo haicai, amigo Luis, abraços e vai um meu:
ResponderExcluirna quieto lago
o sol despede o dia
sombras se alargam
Concha Rousia