Pintura de Anna Kostenko, Kiev (Ucrânia) |
(Antes de ler liga a música aí embaixo...)
Foi a janela quem me falou de ti
quem me avisou de que entraras de noite
apagando o calor
-
Também é ela quem me mostra as árvores
despidas
prontas para te amar no teu lençol branco
-
Sei que hei de sair a percorrer
as ruas molhadas
que hei de deixar que me abracem
os teus braços de gelo
-
Sei que hei de fazer isso
mas por agora me contento com ficar
detrás da janela
queimando o tempo aqui onde o lume
escutando contos no silêncio do teu ventre
onde tudo adormece
onde tudo é promessa
para o amanhã
para quando a janela me fale das flores
-
Mas ainda há um eco no teu surdo som
que sobrevive à música deste silêncio
um eco que pinta beleza transparente e ingénua
que retém o poder de transformar o mundo
de mil maneiras ainda certas
ainda possíveis
-
Um eco que me chama a sair ao teu encontro
a procurar a entrada ao coração da terra adormecida
um eco que me canta canções que me inundam o espírito
saudoso das suas essências
que me convida a vencer a vergonha
da gélida impotência
a passear sem roupas no meu corpo
baixo das nuvens negras
que me escondem o céu
a sair temerária
a dar o meu calor à solidão da Terra
Concha Rousia
Maravilhoso. O ser em um ponto único como num voo alto e só sobre a existência, naquele momento feito infinito onde a vida se encontra inteira em nós. Este é de provocar lágrimas e se casa completamente com a música.
ResponderExcluirMario, Mario, as tuas palavras me abrigam, me abrigam e curam de um frio antigo; escrevi este poema na casa onde nasci, no meio da noite, sozinha, num velho envelope com uma factura a nome da mãe que enterrara havia uns dias. Quero que saibas que senti o teu morno abraço, e vou hoje vestir este poema em minha alma. Concha
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