Escher |
Há uma fotografia nossa nas escadas, como nessas casas americanas atestes de retratos na parede do lado, esta foto é tua e minha, é uma foto que desapareceu de um álbum inexistente, mas é uma foto que foi tirada, permite-me obviar o nome da fotógrafa, mas nem tudo foi sonho, embora eu já sonhei a fotografia de mil maneiras diferentes, em cores, em branco e preto... já lhe coloquei inúmeras molduras, já a vi pendurando em muros de casas que nós, mortais poetas, habitávamos com os nossos corpos...
E eu, mesmo sabendo que tu não gostas de fotografias, te senti pertencer a esta, te entregar à imagem, te dár a mim na foto, para sempre, mesmo que sigas sem gostar de fotos, talvez foi por isso que esse meu álbum, embora mental, decidisse libertar essa foto deixá-la perder-se, talvez a minha consciência, que te quer livre, como tu és, que te quer bonito, como tu és, que te quer... tenha algo a ver com essa libertação tua, e te entrega ao voo desse vento Norte, onde morarão sempre os poemas e os versos amantes de outros versos... e da nossa fotografia, e quem sabe também a dos nossos filhos, a das nossas filhas, a do jardim que nós plantamos, no abandonar todos os medos... que quando se aproximam ocultam tudo com sua sombra, mesmo sendo pequenos eles sabem enganar os olhos...