(Dedico este poema à Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência que hoje chegou a Santiago de Compostela polo Caminho Galego-Portugues)
Foi no acordar das ondas adormecidas
no mar morto da minha memória
com o chilrar duma gaivota a desafiar o vento
que eu pedi perdão
Foi com o roçar do invisivel fio
que atou a fame ao pescoço doutra vítima
que eu pedi perdão
Pedi perdão a essa meninha
que hoje viveu seu último dia
e eu me esqueci
ou pior
eu nem lembrei
nem sabia da sua existência
a essa meninha a quem a fame se fora anunciando
mesmo antes de ela ter nascido
achara acougo no morno ventre
no sacrificado ventre de sua mãe
mau foi nascer
abrir os olhos e nascer
sem vida a aguardar por ela
é só por alguém ansiar dous anacos de pão
hoje
que minha inconsciência toma as rédeas da conciência
penso nela
e quero imaginar o rosto do ladrão do seu pão
pão destinado a ser alimento de mofos nas lacenas dum mundo obeso
atraveso as ruas inçadas de rostos bem mantidos
busco entre os homens
entre as mulheres
busco entre os mais novos
entre os mais velhos
busco entre as crianças envoltas em gordura
busco busco
busco busco
busco busco
busc busco
busco
a minha indecisom vai tapando-me os sentidos
não posso escolher
nem preciso
qualquer um poderia ser
mesmo esse
não
melhor aquele
não
aquele
aquele...
não
entro na casa
passo em frente do espelho
eis a quem lhe pedir contas.
Concha Rousia
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